BOGOTÁ — Na reta final da eleição presidencial na Colômbia, dia 31, o candidato do governo, o liberal Horacio Serpa, vai dando sinais de cansaço, enquanto o conservador Andrés Pastrana dispara na frente e a terceira colocada, a independente Noemí Sanín, demonstra fôlego inesperado e vai na cola do segundo.
Pelo menos é o que indica pesquisa publicada pelo jornal El Tiempo. Pastrana vai na frente com 41,7% das intenções de voto, enquanto Serpa aparece empatado com Noemí, com 24% cada.
Já o jornal El Espectador indica que, em Bogotá, onde tradicionalmente o mais bem votado vence as eleições presidenciais no âmbito nacional, Noemí já passou à frente de Serpa, por 28,1% a 24,8%; Pastrana vence na capital, com 34,1%. Outras pesquisas locais realizadas pelo jornal indicam a ascensão de Noemí noutros grandes centros, como Cali.
Entretanto, até mesmo articulistas simpáticos a Noemí, como Gilda Sarmiento, do El Espectador, consideram pouco provável uma vitória da candidata independente. Uma pesquisa publicada no dia 18 pela revista La Semana indicava um quadro bem diferente: 40,9% para Pastrana, 35,5% para Serpa e 10,4% para Noemí.
A chanceler do governo de César Gaviria (1990-94) pode não passar para o segundo turno, mas, apelidada de La Niña, já é considerada o grande fenômeno dessas eleições. O êxito de Pastrana já era algo mais previsível. Em 1994, o conservador foi derrotado no segundo turno pelo presidente Ernesto Samper por uma margem ínfima de votos: 45,2% a 44,8%.
De lá para cá, Samper só perdeu popularidade. A reputação do presidente ficou irremediavelmente manchada pela denúncia — que partiu de gravações obtidas, logo depois da eleição, por Pastrana — de doação de US$ 6 milhões do Cartel de Cali para sua campanha. O processo foi arquivado pela Câmara dos Deputados, onde Samper detém maioria absoluta.
Desde que se definiu candidato de uma coalizão de forças que inclui dissidentes liberais, há apenas quatro meses, o conservador Pastrana cresceu 27 pontos nas pesquisas, segundo El Tiempo.
O último mês tem sido especialmente espinhoso para o candidato do governo, no qual foi ministro do Interior e leal defensor de Samper. No dia 23 de abril, o índice de desemprego atingiu o ponto mais alto dos últimos 13 anos:
14,5%. No dia 12 de maio mais um duro golpe: o ex-ministro da Defesa e general da reserva Fernando Landazábal foi morto a tiros na porta de sua casa, em Bogotá. O atentado serviu para ressaltar, com amarga ironia, o estado de insegurança no país. Landazábal defendia mão mais firme contra a guerrilha de esquerda e apoiava o candidato — sem chances — à presidência Harold Bedoya.
A rejeição ao governo de Samper bateu recorde este mês: 80%. Em contrapartida, Pastrana tem recebido adesões significativas, como a do Nobel de Literatura Gabriel García Márquez e a do liberal Alfredo Valdivieso, ex-procurador-geral e espécie de reserva moral do país.
“Sabia-se que essa eleição se reduziria a escolher quem era o anti-Serpa”, diz o cientista político Hernando Gómes Buendía. Mas faz uma advertência:
“Não se pode desconhecer, ademais, um foco de inconformados que querem uma mudança mais radical; esse é o nicho de Bedoya e Noemí.” Esses inconformados podem decidir a eleição presidencial colombiana.