Guerrilha pedira desmilitarização de duas áreas para negociar com o próximo governo
BOGOTÁ — Os principais candidatos à presidência da Colômbia rejeitaram a proposta das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) de iniciar negociações com o próximo governo, em troca da desmilitarização de Putumayo e Caquetá, dois Departamentos (Estados) no sul do país com forte presença guerrilheira. Num golpe de propaganda, as Farc fizeram a oferta na noite de domingo, no momento em que os candidatos se preparavam para os comícios de encerramento da campanha.
“A Colômbia não pode deixar-se distrair”, reagiu Álvaro Uribe, o favorito nas pesquisas de intenção de voto para a eleição de domingo. “Quem disse que estamos rifando o país? O que o país tem que fazer é aplicar segurança e não entrar nessas discussões”, completou Uribe, repetindo seu discurso de linha dura, que lhe deve garantir a vitória, na esteira do fracasso retumbante do processo de paz lançado pelo presidente Andrés Pastrana.
O ex-governador de Antioquia, acusado pelos adversários de ligações com os paramilitares que combatem a guerrilha, acrescentou ontem que aceita um diálogo com as Farc, com mediação internacional, desde que ela “abandone o terrorismo e cesse as hostilidades”.
Na última pesquisa, divulgada pelo jornal El Tiempo no domingo, Uribe, candidato dissidente do Partido Liberal, aparece com 49,3% da intenção de votos — portanto, dentro da margem de erro para se eleger ou não já no primeiro turno. O segundo colocado, Horacio Serpa, candidato liberal oficial, tem 23,0%. Serpa, que apoiou as negociações com a Farc, tem um passado de esquerda e um discurso bem mais moderado em relação à guerrilha, considerou a oferta “extemporânea”.
O esquerdista Luis Eduardo Garzón, com 7,1%, defensor de um “acordo humanitário”, reconheceu que não há clima de confiança para uma nova zona de distensão. A conservadora independente Noemí Sanín, com 6,0%, disse que não tem sentido desmilitarizar outra área para as Farc usarem como base para a “guerra e os abusos”.
Um caminhão-bomba das Farc explodiu ontem numa ponte no Departamento de Antioquia, reduto de Uribe, deixando 11 feridos, nenhum com gravidade. O presidente da Federação de Municípios, Gilberto Toro, disse que a população corre riscos em 200 localidades, onde não há presença permanente das forças públicas, e que em pelo menos 15 delas não haverá eleições.
A informação foi desmentida pelo ministro do Interior, Armando Estrada, que garantiu que as condições de segurança estão garantidas em todos os municípios. Em dois deles, oficiais do Exército vão substituir funcionários de mesas eleitorais, ameaçados de morte. Para complicar o lado operacional das eleições, os funcionários da estatal Telecom estão em greve.