BOGOTÁ — A guerrilha colombiana intensificou suas operações em todo o país, como que para assegurar sua posição no topo da agenda política às vésperas da eleição presidencial de domingo.
Na noite de segunda-feira, um homem não identificado matou a tiros o presidente da Assembléia do Departamento de Arauca, o deputado liberal Édgar Guzmán Tafur. O atentado ocorreu num parque na pequena cidade de Tame (400 quilômetros a nordeste de Bogotá), onde o deputado estivera acompanhando o presidente colombiano, Ernesto Samper, durante uma visita no sábado.
Guzmán tinha 38 anos e estava jurado de morte pela guerrilha esquerdista. No sábado, cerca de 50 guerrilheiros invadiram a penitenciária San Isidro, em Popayán, no Departamento de Cauca, e facilitaram a fuga de 324 presos, incluindo um comandante das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Luis Alberto Cardoso Díaz, o Vermelho. No domingo, os guerrilheiros detonaram bombas em torres telefônicas no Monte de Perico, deixando incomunicável uma extensa área que abrange três departamentos do sul. Cerca de 150 guerrilheiros mantiveram tiroteio durante 11 horas com policiais, três dos quais ficaram feridos.
Antes dessa demonstração de força, o comandante das Farc, conhecido como general Marulanda ou Tiro Certo, anunciou que aceita negociar com o próximo presidente eleito. A declaração, feita em vídeo, foi divulgada no dia 17, exatamente duas semanas antes do primeiro turno presidencial.
Os três candidatos com chances de passar para o segundo turno — o conservador Andrés Pastrana (que tem entre 41% e 42% nas pesquisas), o liberal Horacio Serpa (35,5% numa e 24% noutra) e a independente Noemí Sanín (17,5% numa e 10,4% noutra) — concordam em dois pontos fundamentais: é preciso negociar com os guerrilheiros e o respaldo dos EUA é vital.
Uma pesquisa divulgada ontem pela imprensa revelou que os três também têm outra posição comum: eles disseram que, uma vez na presidência, não pretendem impulsionar nenhuma reforma constitucional para acabar com a proibição de que o presidente concorra à reeleição.
Visitas americanas — O esforço concentrado da guerrilha para golpear o governo de maneira especialmente dura nestes dias não coincide apenas com a reta final da campanha presidencial, mas também com uma onda de visitas de autoridades americanas que exercem papéis-chave na cooperação dos Estados Unidos.
Na segunda-feira, enquanto 280 fugitivos de San Isidro — muitos considerados de alta periculosidade — continuavam soltos, a Colômbia recebia o presidente da Comissão de Orçamento do Congresso americano, o senador republicano Mitch McConell. O senador foi descrito nos meios de comunicação como “o homem do dinheiro”, capaz de liberar ou bloquear a ajuda americana pela qual os colombianos tanto anseiam para o combate à guerrilha e ao narcotráfico.
O comandante da Polícia Nacional, general Rosso José Serrano, que ciceroneou o senador, de helicóptero, por áreas críticas de combate ao narcotráfico, demonstrou um misto de constrangimento e senso de oportunidade diante da espetacular invasão do presídio. “Essa é a nossa realidade”, disse ontem o general à Rádio da Polícia Nacional. “Precisamos de toda a ajuda possível, pois nossa situação é muito precária, mas o senador saiu com uma boa imagem, porque testemunhou nosso esforço.”
Antes do senador, estiveram na Colômbia, recentemente, o chefe do Comando Sul das forças dos EUA, Charles Wilhem, o diretor da agência americana antidrogas (a DEA), Thomas Constantine, o assessor especial da presidência para o combate ao narcotráfico, Barry McCaffrey, o assessor da Casa Branca para a América Latina, Thomas McClarty, e o diretor do FBI (polícia federal), Louis Freeh.
Os jornalistas e comentaristas colombianos buscam pistas sobre a preferência americana para essa eleição, depois de quatro anos traumáticos de má vontade dos EUA para com o presidente Ernesto Samper, acusado, no início do mandato, de ter aceitado US$ 6 milhões do cartel de Cali para sua campanha.
Em entrevista ao vivo ontem à Rádio Caracol, o subsecretário de Estado para Assuntos Interamericanos, Bernard Aronson, foi até onde a diplomacia lhe permite. Depois de garantir que “os Estados Unidos respeitarão a decisão soberana dos colombianos”, arrematou: “Esperamos que os colombianos elejam alguém com autoridade política e moral para combater o narcotráfico.”
Serpa, o candidato liberal, foi ministro do Interior e árduo defensor de Samper. Pastrana, o candidato conservador, derrotado por Samper em 1994, foi quem apresentou as fitas que desencadearam o escândalo do financiamento da campanha pelo cartel de Cali. Para bom entendedor, meia palavra basta — esse parece ser o lema americano.