Intercâmbio Brasil-Colômbia está em expansão

BOGOTÁ — A Colômbia é importante para o Brasil por uma série de motivos:

 

pela fronteira amazônica de mais de 800 quilômetros, pelo superávit brasileiro no intercâmbio comercial, pela integração entre o Mercosul e a Comunidade Andina, pelo petróleo e o carvão colombianos e até pela influência de Bogotá no movimento não-alinhado. Além disso, a capacidade ou não da Colômbia de conter o narcotráfico repercute diretamente no Brasil, consolidado como rota e mercado consumidor.

Depois das aberturas simultâneas, iniciadas por Fernando Collor e César Gaviria, o comércio entre os dois países cresceu. De US$ 206 milhões, em 1991, subiu para US$ 634 milhões, no ano passado. Desses, US$ 507 milhões são exportações brasileiras e apenas US$ 127 milhões, colombianas. O superávit brasileiro já preocupa.

Segundo o chefe do setor econômico e comercial da embaixada brasileira em Bogotá, Silvio Albuquerque e Silva, para evitar a imposição de barreiras colombianas e estimular o aumento do intercâmbio, o Brasil quer reduzir a disparidade. Falta complementaridade: os dois países têm pautas semelhantes, calcadas em bens primários.

Para contornar esse problema, o presidente Fernando Henrique Cardoso quer estimular a importação do carvão da Colômbia, que tem a maior reserva da América Latina. O Brasil apresentou uma proposta durante a 4.ª reunião da Comissão de Vizinhança entre os dois países, dia 5, em Brasília. O carvão colombiano iria de navio até o Nordeste brasileiro, onde estariam instaladas várias siderúrgicas. O mesmo navio voltaria para a Colômbia com pellets (bolotas de ferro) brasileiros.

Já há um acordo/quadro de redução de tarifas, chamado 4 + 5, entre o Mercosul (formado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) e a Comunidade Andina (Colômbia, Venezuela, Chile, Peru e Bolívia). O diplomata prevê que até outubro seja firmado acordo para a criação de uma zona de livre comércio entre os dois blocos, que passaria a vigorar, “o mais tardar”, no fim de 1999. A maioria dos produtos teria tarifa zero. Haveria exceções, por exemplo, nos setores automotivo e agropecuário, que a Colômbia quer proteger.  

A Braspetro explora cinco pequenos poços de petróleo na Colômbia, com faturamento mensal de US$ 2 milhões. A Norberto Odebrecht toca quatro obras. A Andrade Gutierrez, que teve dois engenheiros seqüestrados entre 1996 e 97 pela guerrilha, tem uma obra. Mendes Jr. e Camargo Correa também têm atuado na Colômbia. A Unimed transferiu seu modelo de cooperativa médica para um convênio chamado Unimec. A White Martins do Brasil tem uma subsidiária, chamada Oxigenios de Colombia. E assim por diante.

De acordo com o ministro-conselheiro Ricardo Borges, que chefia interinamente a embaixada brasileira, praticamente não tem havido problemas na vasta fronteira entre os dois países. Borges, que assumirá a embaixada no Senegal, em julho, quando da chegada do novo embaixador em Bogotá, Marcus De Vincenzi, cita só um incidente, em 1991, quando um confronto entre os guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia e o Exército brasileiro deixou três soldados mortos, na região do Rio Traíra. A guerrilha não costuma entrar em território brasileiro.

A Colômbia detém um trunfo que pode revelar-se atraente para o Brasil: seu papel ativo no Movimento dos Não-Alinhados, que reúne 113 países. Na qualidade de líder do movimento, o presidente colombiano, Ernesto Samper, pôde romper o isolamento diplomático que lhe impuseram os EUA e discursar na 50.ª Assembléia-Geral da ONU.

 

O secretário do Setor Político da embaixada, Paulo Roberto Soares Pacheco, que esteve na reunião do grupo em Cartagena, entre os dias 18 e 20, avalia que, embora o movimento tenha perdido o sentido ideológico que tinha na guerra fria, é um agrupamento numeroso de países. Várias nações desenvolvidas enviaram representantes à reunião, para exercer os respectivos lobbies.

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