BOGOTÁ — O candidato favorito na eleição presidencial de domingo, Andrés Pastrana, comprometeu-se ontem a conduzir pessoalmente negociações de paz com os guerrilheiros colombianos, durante entrevista à imprensa internacional.
“Eu me sentarei com a guerrilha”, afirmou o candidato conservador, respondendo a uma pergunta do Estado, sobre o que concretamente se deve fazer para alcançar a paz na Colômbia.
Pastrana avalia que, “hoje, a situação é diferente de há quatro anos”, referindo-se à última eleição presidencial, que ele perdeu por 0,3 ponto porcentual para Ernesto Samper. “As Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e o ELN (Exército de Libertação Nacional) mostraram-se dispostos a participar de negociações”, lembrou Pastrana.
“Outro diferencial é o mandato pela paz”, acrescentou. “Os colombianos votaram pela paz em outubro”, continuou ele, aludindo às eleições departamentais e municipais em que os eleitores desafiaram o “boicote armado” da guerrilha, que controla 40% do território. “A primeira obrigação do próximo presidente é fazer a paz”, ponderou Pastrana, que se tem esforçado nos últimos dias para resgatar esse tema, transformado no mote de campanha de seu principal adversário: “Horacio Serpa é a paz.” Pastrana garantiu que há possibilidades de negociações: “Na semana passada, as Farc avisaram ter nomeado uma comissão para iniciar o diálogo com o novo governo.” Mas com um “governo que tenha legitimidade e autoridade”, enfatizou o oposicionista, numa referência ao escândalo do financiamento da campanha do presidente Ernesto Samper pelo cartel de Cali, que foi usado como justificativa pela guerrilha para não negociar com o governo, alegando “falta de legitimidade”.
Serpa foi ministro do Interior de Samper e seu mais importante defensor e articulador político. Em entrevista na quinta-feira, ele se dispôs a fazer as “concessões necessárias” para obter a paz e até mesmo a convocar uma Assembléia Constituinte, para eventuais reformas. Ontem, Pastrana também mencionou a Constituinte, para abrir caminho para a conversão dos grupos guerrilheiros em partidos políticos.
Pastrana ressalvou ainda: “Para que a paz seja possível, temos de fazer uma reforma estrutural no país, sobretudo reformas que impliquem investimentos sociais.” Pastrana tem sido tachado de “neoliberal” por Serpa, que, com seu passado de esquerda, procura perfilar-se como campeão das causas sociais.
O candidato conservador rejeita o rótulo. “Defendo a economia social de mercado”, disse ele, argumentando que “nenhum governo foi mais neoliberal que o atual: em 1994, havia 14 milhões de pobres na Colômbia; hoje, são 18 milhões”. Ao falar de política externa, Pastrana voltou a bater na tecla da credibilidade: “O primeiro passo é recuperar a autoridade moral perante a comunidade internacional.” No governo Samper, os EUA encamparam as denúncias de doação de US$ 6 milhões do cartel de Cali para sua campanha e lhe negaram uma “certificação” pela qual reconhecem os esforços dos governos no combate ao narcotráfico.