Empresários e ativistas de direitos humanos saúdam a anunciada intenção de dialogar com a guerrilha
BOGOTÁ — As mudanças de ênfase nas declarações do presidente eleito Álvaro Uribe, em comparação com o seu discurso de campanha, foram em geral bem recebidas pelos chamados formadores de opinião colombianos. Uribe, estereotipado como “de direita” e “linha dura”, afirmou, depois de se conhecer sua eleição já no primeiro turno, com 53% dos votos, que buscaria mediação internacional para dialogar com a guerrilha, que pretendia renegociar a dívida externa com os organismos multilaterais e que a Colômbia tem sido “muito pontual em pagar a dívida financeira e não a dívida social”.
“Parece-me lógico que, ganhando no primeiro turno, depois de haver feito um discurso de força e autoridade, ele chame o país para a concórdia e o diálogo”, disse ao Estado o analista político Ivan Nichols. “O discurso de antes era produto do interesse imediato de ganhar as eleições.”
No pronunciamento de domingo à noite, Uribe repetiu, como havia dito na campanha, que a condição para o diálogo era o “abandono do terrorismo e a facilitação do fim das hostilidades” por parte dos grupos armados. As ações da guerrilha se intensificaram depois que o atual presidente, Andrés Pastrana, cedeu uma área de 40 mil quilômetros quadrados às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e negociou com elas uma agenda social e política durante três anos e meio.
“Pareceu-nos muito boa a posição dele nessa matéria”, reagiu Sabas Pretel de la Veja, presidente do Conselho Nacional Gremial, que reúne as entidades de classe empresariais. Uribe explicou ontem que recorreria aos países vizinhos – entre os quais, o Brasil -, aos EUA e à União Européia, e que o processo deveria ser levado adiante com o aval da ONU. Ana Tereza Bernal, diretora da organização não-governamental de defesa dos direitos humanos Redepaz, também elogiou o discurso do presidente eleito: “A ONU pode desempenhar um papel muito positivo no processo de paz, sob novas condições e um novo modelo.”
O vice-presidente eleito, Francisco Santos, cuja família é proprietária do jornal El Tiempo, o mais importante do país, disse que trabalhará pela restauração dos direitos humanos e na luta contra os seqüestros, e para “mudar a imagem equivocada que ainda têm em algumas partes do mundo de Uribe, um homem austero, honesto, pelo qual este país se enamorou”.
Um namoro que contagiou uma fatia do Partido Liberal, do qual Uribe é dissidente. Depois que Horacio Serpa, segundo colocado na eleição, com 32%, anunciou que entregaria sua liderança, o partido está rachado entre os que querem apoiar o presidente eleito e os que farão oposição.
Em outra parte do pronunciamento de domingo, Uribe fez um apelo aos organismos multilaterais, para que “compreendam este difícil momento da economia da Colômbia, com agudo déficit fiscal e difícil situação de endividamento”. Observando que, nos próximos dois anos, sairá mais dinheiro para os organismos financeiros internacionais do que entrará, o presidente eleito argumentou que esses organismos “têm que reorientar sua política, têm que saber que as democracias da Colômbia e do mundo dependem da eqüidade social e, para isso, muitas das correntes e doutrinas que prevalecem na condução da economia mundial têm que ser revistas de imediato”.
Nesse ponto, as reações foram mais divididas. “É um mau momento para renegociar a dívida”, disse o economista Javier Fernández. “Não se está pensando numa renegociação heterodoxa e muito menos numa moratória, como se chegou a mencionar”, explicou um dos chefes da campanha de Uribe, Fabio Echeverri Correa, ex-presidente da Associação Nacional de Industriais (Andi), que agora coordenará os contatos entre a equipe e o governo Pastrana, no período de transição até a posse, dia 7 de agosto.