Uribe livra-se de pressões externas contra ações militares e por diálogo
BOGOTÁ – O resgate de 15 reféns em poder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), na quarta-feira, não tem conseqüências só sobre o conflito armado ou a política interna do país. Ele altera as relações da Colômbia com os países da região e do restante do mundo. Antes da Operação Xeque, o presidente Álvaro Uribe, embora tivesse 84% de popularidade (que saltou depois para 91%), era presa fácil da retórica dos governantes “de esquerda” da região e das pressões dos países europeus – não só da França – para que fizesse concessões à guerrilha que levassem à libertação dos reféns e ao fim do conflito.
“Uribe vivia sob críticas constantes de que carecia de uma política séria de paz”, recorda Ariel Ávila, coordenador do Observatório do Conflito Armado. Hugo Chávez, da Venezuela, fustigava-o por causa de sua ofensiva militar contra as Farc; Nicolas Sarkozy, da França, tentava empurrá-lo a todo custo para concessões e negociações. Segundo Ávila, agora Uribe já pode dizer: “Não me encham mais. Vocês já têm Ingrid Betancourt e os americanos. Deixem que eu dou um jeito aqui, porque é o meu país.”
Chávez já vinha abandonando a retórica agressiva desde que começaram a ser divulgados indícios comprometedores do computador de Raúl Reyes, o número 2 das Farc, morto em março no ataque a seu acampamento, no Equador. Mensagens trocadas entre guerrilheiros indicavam que o presidente venezuelano havia concordado em doar US$ 300 milhões às Farc. “Chávez ficou muito vulnerável perante a comunidade internacional”, avalia Alfredo Rangel, da Fundação Segurança e Democracia.
O presidente venezuelano, que antes defendia a concessão do status de força beligerante às Farc, passou a criticar a guerrilha, dizendo que já não havia espaço para a luta armada no continente. E pediu que as Farc soltassem incondicionalmente os seus (à época) 41 reféns políticos e 720 reféns econômicos. Depois do resgate, Chávez tornou-se ainda mais amigável em relação a Uribe. Trocou os qualificativos <IP10,0,0>”mafioso”, “criminoso”, “mentiroso”</IP>, “paramilitar” e “dirigente do narcotráfico” por “irmão”.
“Chávez entendeu que as Farc não têm futuro nenhum”, constata Rangel. “O resgate vai ter um impacto positivo sobre os governos da região que têm nutrido simpatia pelas Farc, como os de Evo Morales (Bolívia), Rafael Correa (Equador) e Daniel Ortega (Nicarágua).”
Internamente, observa Ávila, encerram-se as críticas sobre a eficiência dos gastos militares, que consomem 6,5% do PIB colombiano (no Brasil, é 0,4%). Além de eliminar o debate, existente até então na Colômbia, entre libertação negociada e resgate militar, o êxito da Operação Xeque também reforça a posição de Uribe de não ceder à exigência das Farc de desmilitarizar uma área de 800 km² para iniciar o diálogo. “Pode-se propor que as negociações se dêem em outro país, como o Brasil”, diz o coronel da reserva Carlos Velásquez, professor de ciência política na Universidade de La Sabana. Segundo ele, a atuação do Brasil em relação ao conflito colombiano é considerada “prudente e bem administrada”.
Velásquez elogia também o governo colombiano, por “não ter assumido uma posição triunfalista” depois do resgate. Ele imagina uma situação na qual Uribe exija que as Farc ponham todos os reféns em liberdade, como condição para começar a negociar. As Farc, em contrapartida, ofereceriam soltar uma parte deles. “Se o governo deixar a porta aberta, poderá haver uma negociação”, diz Velásquez. Mas reitera que, antes disso, Alfonso Cano, líder máximo das Farc, vai querer tirar o grupo guerrilheiro da atual situação de debilidade, obtendo alguma vitória no terreno militar.