Em meio à violência e ao ceticismo da população, governo e guerrilha programam para esta semana uma etapa decisiva das negociações de paz
BOGOTÁ – O governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) vivem neste fim de semana momentos decisivos sobre o destino do processo de paz e do conflito armado. A ofensiva lançada pelas Farc na última semana e a reação bem-sucedida das Forças Armadas colombianas alteraram a correlação de forças entre as duas partes.
Os primeiros indícios do tipo de utilização que os guerrilheiros estão fazendo da zona desmilitarizada deu um sentido de urgência à formação de uma comissão de verificação internacional. Por desavenças entre governo e guerrilha quanto às atividades dessa comissão, a reunião de segunda-feira em Uribe (Departamento de Meta), na zona desmilitarizada, quando deveriam começar efetivamente as discussões substanciais, corre o risco de não ocorrer.
As incertezas e tensões nas vésperas da reunião crucial dizem muito sobre o estágio do conflito armado e, com ele, do incipiente processo de paz. Previsibilidade nunca foi o forte das Farc. Seu líder máximo, Pedro Antonio Marín, aliás Tirofijo (Tiro Certo), não compareceu à reunião das negociações, em San Vicente del Caguán (Caquetá), em janeiro. O presidente Andrés Pastrana esperou sentado, constrangido e esnobado. Desta vez, tudo indica que a própria realização da reunião ficará em suspense até o último instante, enquanto as Farc regateiam com o governo sobre o que fará a comissão de verificação.
O argumento da guerrilha é simples: nunca foram definidas regras de sua atuação na chamada zona de distensão. Portanto, o que a comissão verificaria?
Nos 42 mil quilômetros quadrados do lado colombiano da Bacia do Orinoco, de onde o Exército colombiano se retirou a partir do dia 7 de novembro, as Farc impuseram, pela primeira vez, controle efetivo sobre um território. Os colombianos tiveram esta semana uma idéia de como esse controle é exercido. O chefe da Defensoria Pública, José Fernando Castro, denunciou a execução de 11 pessoas pelas Farc, acusadas de serem paramilitares (grupos de autodefesa rivais da guerrilha) infiltrados na zona de distensão.
Além disso, com a ofensiva das Farc em várias frentes e o êxito das Forças Armadas em contê-la, deixando 300 guerrilheiros mortos, provou-se o que já vinha sendo objeto de denúncias havia muito tempo: o recrutamento maciço, pela guerrilha, de crianças e jovens mulheres, dezenas das quais estavam entre os cadáveres. Além disso, segundo os militares, a zona de distensão está servindo de base para o lançamento de ataques fora dela.
O governo do presidente Pastrana, cujo principal tema de campanha eleitoral, há um ano, foi o lançamento de negociações de paz, vê-se na difícil situação de ter de prestar contas sobre os resultados obtidos com as concessões territoriais que fez. Em Bogotá, o ceticismo domina a percepção dos cidadãos comuns. A visão corrente é a de que a guerrilha é um negócio – que envolve o narcotráfico, os seqüestros e a cobrança de “impostos” e “pedágios”. Não será tirada dessas lucrativas atividades a não ser pela força.