Serpa e Pastrana vão para o 2.º turno na Colômbia

BOGOTÁ — O liberal Horacio Serpa, candidato do governo, e o conservador Andrés Pastrana disputarão o segundo turno da eleição presidencial colombiana, no dia 21.

Serpa e Pastrana estavam praticamente empatados ontem à noite, computados 95,2% dos votos: 34,46% para o primeiro e 34,35% para o segundo. Em terceiro, ficou a candidata independente Noemí Sanín, com 27%.

No decorrer da contagem, Serpa e Pastrana revezaram-se várias vezes no primeiro lugar. Pesquisa do Centro Nacional de Consultoria, divulgada na sexta-feira, indicava que Pastrana derrotaria Serpa, por 49% a 36%, caso os dois passassem para o segundo turno.  

Ontem à noite, o clima era bastante tranqüilo em Bogotá. As festas concentraram-se nos comitês de campanha; não só no de Serpa e de Pastrana, mas também no de Noemí, que celebrava o feito de uma mulher e candidata independente obter quase 3 milhões de votos.  

Serpa votou ao meio-dia (14 horas em Brasília) na Praça Bolívar, no centro de Bogotá, em frente ao Palácio de Nariño, sede do governo. O candidato liberal explicou assim a escolha do local: “Quero ir acostumando-me com a área.” Pastrana teve mais pressa. Votou às 8h30 — apenas meia hora depois de iniciado o horário de votação — no Colégio 20 de Julho, num bairro de classe média baixa que leva o mesmo nome, no sul de Bogotá.

O candidato não mora na região. Inscreveu-se nessa zona eleitoral depois de ter sido seqüestrado pelo chamado Grupo dos Extraditáveis do Cartel de Medellín, em 1988, quando era candidato a prefeito de Bogotá. O seqüestro durou um mês. Em agradecimento por sua liberação, Pastrana se tornou devoto do Divino Menino, a quem se atribuem poderes milagrosos, e cujo santuário fica numa igreja próxima ao Colégio 20 de Julho. Depois de votar, Pastrana seguiu para uma missa privada na Igreja San Ignácio, onde está enterrado seu pai, o ex-presidente Misael Pastrana (1970-74).

Das 20,9 milhões de pessoas habilitadas a votar, cerca de 11 milhões compareceram às urnas. A abstenção foi um pouco abaixo da alta média colombiana, que gira em torno de 50%. Nova legislação introduziu estímulos aos eleitores: quem vota tem preferência nos concursos públicos, bolsas de estudos e créditos habitacionais, além de ver reduzido em até dois meses o serviço militar.  

No fim da semana, as pesquisas indicavam uma ascensão vertiginosa de Noemí, ex-chanceler no governo César Gaviria (1990-94). Entretanto, as pesquisas concentram-se nas cidades. Na zona rural, onde vivem 30% dos 40 milhões de colombianos, as máquinas dos dois partidos centenários falam mais alto.

Noemí venceu em Bogotá, com 41% dos votos, enquanto Serpa teve 28% e Pastrana, 26%. Com isso, rompeu-se a tradição segundo a qual Bogotá elegia o presidente colombiano.

De qualquer forma, a ex-chanceler recebeu quase 3 milhões de votos e consolidou-se como fenômeno. Serpa e Pastrana terão de concentrar-se agora em atrair os votos do eleitorado de Noemí, definido pelos analistas como um grande grupo de inconformados com a maneira tradicional de fazer política na Colômbia.

Em seu discurso de ontem à noite no comitê de campanha, depois de conhecidos os resultados, Pastrana já iniciou esse trabalho. Elogiou rasgadamente Noemí: “Espero que ela continue desempenhando esse importante papel na vida política colombiana.” Noutras palavras, que ela passasse a apoiá-lo.

Em seu discurso, por sua vez, Noemí não deu mostras de que pretendesse manifestar apoio a qualquer um dos dois candidatos, que criticou duramente durante a campanha. Apenas agradeceu aos eleitores que “depositaram sua confiança” nela.  

Na nova batalha que se inicia, Serpa entrará sobretudo com seus grandes dotes oratórios. Tem um perfil populista, com ênfase “no social” e um passado de simpatia pela guerrilha esquerdista. Pastrana se mostra mais inclinado à reforma do Estado e à redução do déficit público, que está em 3,8% do PIB. Por isso é tachado de “neoliberal” por Serpa, mas rejeita o rótulo. Serpa promete não privatizar as estatais e investir nos serviços públicos.

Pastrana promete baixar o Imposto sobre Valor Agregado de 16% para 12% e criar 4 milhões de empregos, com incentivos fiscais. Em maio, o desemprego chegou a 14,5%. Quando o presidente Ernesto Samper assumiu, em 1994, era de 7,6%.

Com relação à guerra civil, Serpa e Pastrana têm propostas muito semelhantes. Ambos prometem negociar pessoalmente com os líderes guerrilheiros, fazer concessões, que não adiantaram quais seriam, e apoiar a convocação de uma Assembléia Constituinte, para abrir caminho para a transformação dos grupos armados em partidos políticos.

Noemí, sem dúvida, continuará no centro dos acontecimentos. Assim como Pastrana, tem grande habilidade para lidar com a mídia. E também explora com fervor o expediente religioso, nesse país marcadamente católico. Na noite de sábado, em seu comitê, foi realizada uma missa para pedir a Deus pela vitória da candidata.

Noemí, apelidada de La Niña, por ser considerada o grande fenômeno da política colombiana, procurou diferenciar-se durante a campanha como alternativa “aos políticos tradicionais” e “às máquinas partidárias”.

Indagada pelo Estado de onde vinha o dinheiro de sua campanha, garantiu que “de nenhuma fonte suja”, mas de “um grande número de simpatizantes” e de empresários.  

 

O financiamento das campanhas é um dos temas mais sensíveis na Colômbia. A credibilidade do governo Samper ficou irremediavelmente comprometida pelas denúncias, surgidas já no início de seu mandato, em 1994, de doação do Cartel de Cali de US$ 6 milhões para sua campanha. Serpa, como ministro e amigo de Samper, foi seu grande defensor. A prova de lealdade atraiu a simpatia de uma parte dos eleitores. Outros consideram comprometedor seu envolvimento com o governo anterior. Ontem, os colombianos mostraram-se profundamente divididos.

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