Jaime Bermúdez está cotado para substituir ex-refém Fernando Araújo
A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Colômbia, nos dias 19 e 20, poderá coincidir com uma troca de guarda no Ministério das Relações Exteriores do país. O retorno abrupto a Bogotá do embaixador da Colômbia em Buenos Aires, Jaime Bermúdez, ex-assessor do presidente Álvaro Uribe, intensificou as especulações de que o chanceler Fernando Araújo esteja prestes a ser substituído.
Araújo foi nomeado no início do ano passado, depois de sua fuga espetacular na selva, que pôs fim a seis anos no cativeiro das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), aproveitando uma operação de resgate. Seria, portanto, o porta-voz natural do governo nos dias que se seguiram ao resgate dos 15 reféns, há uma semana. Mas se manteve inteiramente ausente do noticiário durante toda a repercussão do episódio e, na noite de terça-feira, viajou para o Japão, para uma visita oficial. De lá, segue para a Coréia do Sul, de onde só deve retornar no final da próxima semana.
CENTRALIZADOR
“Na verdade, quem faz a política externa da Colômbia é o presidente Uribe”, disse ao Estado uma fonte diplomática. “Ele é extremamente centralizador. A chancelaria tem autonomia zero.” É possível que Bermúdez, se confirmado, dê um perfil um pouco mais alto ao cargo. Aparentemente, é uma das poucas pessoas que o presidente efetivamente ouve.
O jovem advogado e jornalista chefiou a área de comunicação da primeira campanha de Uribe, em 2002, e seguiu como secretário dessa área durante o seu primeiro governo. É dele a estratégia de transmitir pela TV as visitas que o presidente faz todos os fins de semana aos povoados no interior, que se tornaram uma das marcas de seu governo. Bermúdez chefiava a embaixada em Buenos Aires desde que Uribe tomou posse para o segundo mandato, em agosto de 2006, e retorna a Bogotá antes do prazo habitual de pelo menos três anos em um posto no exterior.
Se confirmada, a mudança contém uma ironia. Justamente no momento em que a posição da Colômbia muda no cenário regional e internacional, graças ao resgate dos reféns, o homem que por seu passado de ex-refém havia sido escolhido para representar o país e sua luta contra o “narcoterrorismo” deixa o cargo. O resgate, prova do êxito da linha dura de Uribe contra a guerrilha, fez o presidente Hugo Chávez, da Venezuela, recuar de suas pesadas críticas ao colega colombiano e Nicolas Sarkozy, da França, abandonar as pressões por negociações com as Farc.
Uribe convidou Lula para visitar a Colômbia quando esteve em Brasília para a criação da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), em 23 de maio. O colombiano cativou o colega brasileiro com a proposta – carregada de simbolismo – de celebrar com ele o Dia da Independência da Colômbia, 20 de julho, em Letícia, na fronteira com o Brasil. Lula chega a Bogotá na véspera, para um encontro de empresários dos dois países. À medida que o governo Uribe tem conseguido conter e isolar a guerrilha, a Colômbia tem atraído investimentos externos crescentes, incluindo os de grandes empresas brasileiras.