Uma das que mais cresciam no continente, hoje a economia colombiana se desacelera
BOGOTÁ — Ao longo de quatro décadas, o conflito armado na Colômbia deixou cerca de 40 mil mortos. Hoje, há 2 mil reféns – incluindo uma candidata a presidente, a senadora Ingrid Betancourt. A violência expulsa gente educada e investimentos. Seu custo, além de humano, é econômico, mergulhando o país num círculo infernal de pobreza, violência e mais pobreza.
Só neste ano, a guerrilha dinamitou 285 torres de energia elétrica. Em 48 horas, foram quatro pontes. Relatório anual do Departamento de Estado, divulgado na terça-feira, indica que 85% dos ataques terroristas contra o patrimônio de empresas americanas no exterior ocorreram na Colômbia no ano passado. Foram 191 atentados no país.
A própria participação das empresas brasileiras no mercado colombiano minguou nos últimos anos. O forte dessas empresas era a área de infra-estrutura, a mais castigada pelas ações da guerrilha. Em 1998, algumas das principais empreiteiras brasileiras tocavam grandes obras na Colômbia.
Hoje em dia, a única companhia brasileira com uma operação relevante na Colômbia é a Braspetro, a subsidiária da Petrobrás no exterior, que explora 14 campos de petróleo, em consórcio com outras empresas.
A redução dos investimentos do Brasil e de outros países é resultado, também, da desaceleração da economia colombiana. Que, por sua vez, é conseqüência do acirramento da violência. Entre 1950 e 1995, a Colômbia foi o país cuja economia mais cresceu na América Latina, ao lado da do Brasil, mantendo uma média de 4,5% ao ano. No ano passado, o índice foi de apenas 1,8%. O diretor-executivo da Fedesarrollo, Juan José Echavarría, estima que o conflito armado represente um freio de 1 a 2 pontos porcentuais de crescimento anual do Produto Interno Bruto colombiano.
Além dos prejuízos com os atentados, dos gastos com segurança e da fuga de cérebros e de capitais, Echavarría aponta um dano menos palpável: a deterioração da política econômica. “Em sua aposta firme na paz, o presidente Andrés Pastrana se mostrou resistente a adotar medidas econômicas impopulares, como o ajuste fiscal, as reformas previdenciária e trabalhista, que são as que levariam à retomada do crescimento.” Ao contrário, a agenda social que Pastrana negociou, de maneira inteiramente infrutífera, com a guerrilha, apontava na direção contrária.
Álvaro Uribe, além de reconhecer da forma mais clara que “não há alternativa à guerra, porque ela já foi declarada pela guerrilha”, como diz Echavarría, também parece o mais disposto a fazer os sacrifícios necessários no campo econômico. Nesse sentido, esse dissidente do Partido Liberal é o que melhor representa as duas principais virtudes ideológicas do Partido Conservador – que, depois de quatro anos no governo, não conseguiu nem sequer disputar a presidência, dado o fracasso do processo de paz. Essas virtudes são o apego à segurança e a responsabilidade fiscal.
Cerca de 70% dos empresários apóiam Uribe, segundo sondagens feitas nos fóruns trimestrais organizados pela Fedesarrollo, em parceria com a Associação Nacional das Instituições Financeiras. Deles, participam 1.200 empresários em Bogotá, 500 em Medellín e outros 500 em Cali. Mas, segundo Echavarría, os empresários se mostram reticentes num ponto: ter que pagar mais impostos para custear a guerra.