Indígenas pretendem, com a manifestação, forçar a renúncia do presidente equatoriano
QUITO — Grupos indígenas partiram ontem de vários pontos do Equador em direção a Quito, com o objetivo de “tomar pacificamente” a capital, enquanto as Forças Armadas reiteravam que não permitiriam a violação da lei e da ordem. A Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie) pretende reunir hoje em Quito 40 mil índios para pressionar pela destituição do presidente Jamil Mahuad e a dissolução do Congresso e da Corte Suprema.
O “levante” indígena coincidirá com pronunciamento de Mahuad no Congresso, a partir das 10 horas em Quito (13 horas em Brasília). “Quando um grupo age com violência, tem de ser tratado com violência”, advertiu ontem o comandante do Exército, general Telmo Sandoval. “Eles aceitaram que evitarão usar a violência.”
De sua parte, o presidente da Conaie, Antonio Vargas, reafirmou ontem tanto o propósito de obter a renúncia dos chefes dos três Poderes quanto o de agir pacificamente. Numa insólita reunião na quinta-feira, o ministro interino da Defesa, Carlos Mendoza, e o líder da Conaie estabeleceram as metas e limites de cada um.
Vargas disse ao ministro que a finalidade do autoproclamado “Parlamento Nacional dos Povos do Equador”, que ele dirige, é “instaurar um governo popular”. Mendoza respondeu que a força pública intervirá se eles cometerem atos violentos, obstruírem o trânsito, atentarem contra a propriedade privada ou fizerem qualquer uso indevido da força. Ao que o líder indígena retrucou que sua luta é “pacífica e de longo prazo”.
Ontem, os militares mantinham-se aquartelados. Foram destacados 20 mil homens das três Armas e 15 mil policiais, que atuarão sob comando único, a cargo das Forças Armadas. Quito será patrulhada por 3 mil militares e 3 mil policiais. Em torno do Palácio de El Ejido, sede do governo, serão formados dois cordões: um policial e outro militar. Outros pontos críticos são as estações de saneamento e de eletricidade e as torres de TV, que já estavam sob patrulha desde ontem.
O governo não quer a reedição do que ocorreu em julho em Ambato, capital da Província de Tungurahua. Os índios sitiaram a cidade durante duas semanas e cortaram os serviços públicos. Os líderes indígenas são capazes de mobilizar apenas uma minoria dos índios, que representam 40% da população equatoriana. Mas ninguém duvida de sua capacidade de parar o país, que já provaram várias vezes, fechando estradas, cercando cidades e cortando o abastecimento. O “levante” de hoje deverá contar também com a participação do movimento estudantil, de jovens e de organizações de esquerda.
Os sindicatos evitaram dar apoio oficial ao “levante”, mas houve declarações de simpatia ao movimento. “Os legítimos representantes do povo é que devem governar o país”, disse Patricio Sánchez, líder dos funcionários do Instituto Equatoriano de Seguridade Social (IESS), que estão em greve contra a planejada reforma da Previdência.
Enrique Barros, presidente da Federação dos Petroleiros, em greve contra o plano de privatização do setor, afirmou que “um governo patriótico é a saída”. Grevistas de outros setores decidiram dar uma trégua ao governo. Os trabalhadores da saúde pública anunciaram ontem a suspensão da greve na Província de Guayas, a mais importante do país, depois de receber o salário de dezembro.
Os motoristas de ônibus, que são proprietários dos veículos, e os taxistas da mesma província também suspenderam a greve, para “dar tempo para o governo refletir” sobre suas reivindicações: converter suas dívidas contraídas em dólar pela cotação de 15 mil sucres (e não 25 mil, como foi definido pelo decreto de dolarização) e reduzir taxas.