A procuradoria-geral da República responsabiliza o ex-presidente por um morto e 35 feridos nas manifestações
QUITO – Quando o ex-presidente Lucio Gutiérrez telefonou para o embaixador brasileiro, Sérgio Florencio, para solicitar asilo diplomático, por volta das 15h de quarta-feira, já havia um pedido de prisão contra ele. A procuradora-geral da República, Cecilia Armas, enviou por fax, por volta das 13h30 daquele dia, um ofício ao então comandante da Polícia, general Marco Cuvero Vélez, pedindo a detenção de Gutiérrez por “delito flagrante”. Florencio diz que não tinha essa informação, embora o pedido, enviado imediatamente aos meios de comunicação, tenha sido noticiado naquela tarde.
A procuradora-geral responsabilizou o então presidente pela morte de um fotógrafo chileno que cobria, na noite anterior, a manifestação de cerca de 100 mil pessoas exigindo a saída de Gutiérrez. O fotógrafo teve uma parada cardíaca depois de inalar gás lacrimogêneo supostamente misturado com gás mostarda, uma substância tóxica proibida. Além do fotógrafo, também morreu uma mulher, que escorregou de uma caminhonete que transportava partidários de Gutiérrez para uma “contramarcha” em favor do presidente. De acordo com o Ministério Público, foram contados 35 feridos em um hospital. Os promotores investigam disparos contra os manifestantes feitos do oitavo andar do prédio do Ministério do Bem-Estar Social, em cujo subsolo foram encontradas milhares de tochas, que eram usadas pelos simpatizantes do governo para intimidar os manifestantes.
Além disso, a procuradoria-geral investiga uma suposta doação em dinheiro do narcotraficante César Fernández, preso no Equador, para a campanha presidencial de Gutiérrez, eleito em novembro de 2002. Há acusações também de que sua campanha teria recebido dinheiro da guerrilha colombiana.