Com dolarização e desvalorização do sucre, remarcações de preços chegam a 100%
QUITO — O deputado Jaime Nebot, presidente da Comissão de Defesa do Consumidor, entregou ontem petição à Justiça, para que mande prender produtores e comerciantes que estejam praticando “aumentos abusivos”. A lei prevê pena de até 2 anos de prisão. Os produtos mais visados são o cimento, ferro, açúcar e farinha. As remarcações chegam a 100%.
O deputado afirmou que, antes da dolarização, decretada no domingo, os fornecedores e comerciantes já vinham remarcando os produtos, por causa da rápida desvalorização do sucre: “Na sexta-feira, eles já operavam com a cotação de até 28 mil sucres por dólar, de maneira que não tinham direito de aumentar os preços esta semana.”
O governo fixou o dólar em 25 mil sucres. Na sexta-feira, a cotação girava em torno de 21 mil. Os produtores e atacadistas afirmam que os aumentos se devem à subida dos preços dos insumos importados e ao fato de que os estoques anteriores tinham sido feitos com o dólar por volta de 15 mil sucres – a cotação de meados do segundo semestre do ano passado.
A dolarização cristalizou — e até incrementou, com a cotação fixada pelo governo — a desvalorização do sucre, intensificando as remarcações, que já eram freqüentes, diante do clima de incerteza econômica e política. “De imediato, a dolarização não traz estabilidade, mas aumentos dos preços defasados em relação ao dólar e remarcações defensivas, na expectativa do patamar em que os preços vão estabilizar-se”, explica o analista econômico Diego Borja.
Além disso, fala-se muito na “internacionalização dos preços”, a partir da adoção do dólar. Os aumentos começaram pelos produtos e ainda não chegaram aos serviços, que são muito baratos para visitantes estrangeiros. Uma corrida de táxi cruzando a região central de Quito, cidade de 1,5 milhão de habitantes, não sai por mais de 15 mil sucres, ou US$ 0,60. Um almoço num bom restaurante, excluindo bebida, está na casa dos 150 mil sucres – US$ 6. A brusca desvalorização do sucre e as discrepâncias que ela criou deixam os equatorianos atônitos – em todos os ramos de atividades. O salário mínimo no Equador é de US$ 50.
Prostitutas de Guayaquil, a maior cidade do país, fizeram ontem passeata contra o aumento da estada nos hotéis da zona de baixo meretrício. A estada passou para 8 mil sucres e elas continuam praticando a mesma taxa: 25 mil.