Dolarização sofre nova derrota no Equador

Congresso não aprova nova direção do Banco Central

 

QUITO — Pelo terceiro dia consecutivo, o governo equatoriano não conseguiu aprovar ontem, em sessão extraordinária do Congresso, os nomes de dois novos diretores do Banco Central, para substituir os que saíram por não concordar com a dolarização da economia. A aprovação dos diretores é o primeiro teste político da dolarização, que deve vir acompanhada de uma série de projetos-de-lei destinados a reduzir os gastos públicos. A sessão só se reabre na terça-feira.

O ex-presidente do Banco Central Pablo Better e o diretor Mario Prado renunciaram aos cargos, diante da decisão do presidente Jamil Mahuad de afastar os diretores que resistissem à dolarização. As renúncias foram aprovadas pelo Congresso na terça-feira. Agora, no entanto, a oposição se recusa a aprovar os nomes de José Luis Ycaza e Eduardo Cabezas, para completar a diretoria de cinco membros, exigindo a renúncia dos outros três, que responsabiliza igualmente por má condução da política monetária.

O governo conseguiu reunir apenas 55 votos, quando são necessários 62 – maioria simples no Congresso unicameral de 123 cadeiras. O principal fiel da balança é o bloco Aliança Amazônica-Frente Radical Alfarista (FRA), que reúne cinco deputados. Ontem à tarde, membros da Democracia Popular (DP), partido do presidente, reuniram-se com o bloco, mas não conseguiram convencer os deputados a votar com o governo.

Segundo fontes do governo, os deputados da FRA exigem, em troca, o controle de órgãos públicos com polpudos orçamentos, sobretudo no setor de combustíveis e na Região Oriental do país, à qual pertence a bancada. “Eles não têm a menor vergonha”, disse o deputado Juan Cantos, da DP. “Não podem falar em erradicar a corrupção, porque são corruptos.” Já a FRA afirma que sua posição é a mesma da esquerda: quer a saída dos outros três diretores.

Fora do Congresso, a dolarização ganhou ontem um importante aliado: o ex-presidente León Febres Cordero (1984-88), prefeito de Guayaquil, a maior cidade do país. Em entrevista coletiva, ele declarou que “a dolarização era imprescindível para conter o estampido inflacionário” – de resto, a posição dos líderes empresariais de Guayaquil e de Quito.

Chamando o governo de “incapaz”, Febres Cordero disse esperar que o presidente pelo menos se cerque de bons assessores para conduzir a política econômica a partir de agora.

O prefeito de Guayaquil chamou de “palhaços” os criadores do autoproclamado “Parlamento Popular”, liderado pela Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie). “Respeito os índios, mas eles são apenas 20% da população e não podem impor sua vontade sobre os outros 80%”, exagerou Febres Cordero. Segundo estatísticas oficiais, os índios representam 40% da população.

“Os religiosos na Igreja e os loucos no manicômio”, completou o prefeito, referindo-se ao arcebispo de Cuenca, Alberto Luna Toba, aclamado presidente do “Parlamento Popular”, cujos 800 delegados se declaram em “desobediência civil” e pretendem destituir o “governo paralelo” e dissolver o Congresso e a Corte Suprema.

A Conaie ameaça bloquear as principais estradas do país, cortar o abastecimento das cidades e reunir 40 mil índios para “tomar Quito” amanhã, quando o presidente estará apresentando seu informe ao Congresso sobre 17 meses de mandato. O ministro do Desenvolvimento Humano, Carlos Larreategui, confirmou o pronunciamento do presidente e disse que o poder público garantirá a integridade do Congresso.

 

As Forças Armadas e a polícia têm um plano de contingência para manter a ordem. Ontem, a polícia divulgou o balanço de uma semana de confrontos com manifestantes: 153 detidos e 14 policiais feridos.

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