Florencio reconhece desgaste na imagem do Brasil

Nos últimos dez anos, o País investiu US$ 1,5 bilhão no Equador. Investimentos se intensificaram com Lula e Gutiérrez

 

QUITO – O embaixador Sérgio Florencio reconhece que a concessão do asilo político ao ex-presidente Lucio Gutiérrez arranhou a imagem do Brasil no Equador. “Num primeiro momento, é inevitável surgir um sentimento antibrasileiro, isso está visível nas ruas”, disse ontem o embaixador. “Mas, progressivamente, os equatorianos vão ter a percepção de como foi construtivo o gesto brasileiro, que além de fazer parte da tradição de nossa diplomacia foi feito com o intuito de contribuir para a paz social do Equador.”

Os críticos dizem que o asilo foi uma retribuição do governo Lula a um suposto favorecimento de empresas brasileiras no Equador. Nos últimos dez anos, o Brasil investiu cerca de US$ 1,5 bilhão no país. Os investimentos se intensificaram nos governos de Gutiérrez e de Lula, que assumiram em janeiro de 2003.

A companhia brasileira de maior presença é a empreiteira Odebrecht, que está construindo a Hidrelétrica de San Francisco, um contrato de US$ 303 milhões, dos quais US$ 243 milhões financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Quando estiver pronta, em 2007, a hidrelétrica responderá por 12% da oferta de energia do Equador. 

A Odebrecht também está construindo o aeroporto de Tena, a cidade natal de Gutiérrez, ao preço de US$ 59 milhões, dos quais US$ 50 milhões emprestados pelo BNDES. A empreiteira se prepara para disputar, ainda, uma licitação de US$ 350 milhões, para a recuperação da rodovia Quito-Guayaquil.

Já a construtora Andrade Gutierrez participará de 40% da obra do novo aeroporto de Quito, orçada em US$ 600 milhões. A empreiteira brasileira constrói também uma polêmica ponte em Guayaquil, ao custo de US$ 70 milhões. Durante o governo de Jamil Mahuad, deposto em janeiro de 2000, a obra foi denunciada por superfaturamento. Mahuad exigiu a devolução de US$ 23 milhões. O ex-presidente Lucio Gutiérrez confirmou a cobrança, mas, segundo os críticos, não fez nada para reaver o dinheiro.

“O Brasil tem uma enorme presença no Equador na área de infra-estrutura e construção civil porque nossas empresas são capacitadas, estão aqui há 15, 20 anos, conhecem o mercado e contam com o financiamento do BNDES”, explica Florencio. 

A Petrobrás já investiu US$ 130 milhões desde que entrou no Equador, há dois anos, por meio de sua subsidiária argentina Pérez Companc. Com a compra dessa empresa, a estatal brasileira passou a ter no país 18 poços, com produção diária de 22 mil barris. Para os próximos três anos, a Petrobrás anuncia investimentos de mais US$ 150 milhões, que serão aplicados num novo bloco, ainda em fase de exploração, com capacidade para 100 mil barris diários. Os ambientalistas criticam a concessão desses campos, que ficam dentro do Parque Nacional Yasuní, na Amazônia equatoriana. 

A Ambev é outra empresa brasileira que entrou no Equador há dois anos, com a compra da segunda maior fábrica de cerveja do país, a Cervecería Sudamericana, por US$ 40 milhões. A empresa detinha 4% do mercado interno, mas tem capacidade de abastecer 30% e pretende exportar também para o norte do Peru e o sul da Colômbia.

Na semana passada, a empresa de aviação Tame comprou três aviões da Embraer, ao preço de US$ 80 milhões. O Brasil mantém um comércio bilateral francamente favorável com o Equador e fincado em produtos de alto valor agregado, como automóveis, ônibus, siderúrgicos, tubulações para oleodutos e papel. No ano passado, as exportações brasileiras somaram US$ 480 milhões. Já o Equador exportou para o Brasil apenas US$ 75 milhões, em produtos de baixo valor agregado, como atum, camarão, chapéus Panamá, bombons, caramelos e palma africana, matéria-prima do óleo de dendê. 

 

De acordo com o embaixador Florencio, o Brasil conduz há dois anos um programa de substituição competitiva de importações de produtos de outras regiões do mundo, como a Ásia, pelos dos países sul-americanos. O crescimento da importação da palma africana do Equador, antes comprada da Malásia e da Indonésia, é resultado dessa política. 

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