Governo limita saque de ativos ainda congelados

Manobra visa a garantir reservas para pôr em prática plano econômico

 

QUITO — Um plano apresentado pelo governo de descongelamento dos depósitos bancários causou ontem comoção e revolta nos equatorianos. Pelo programa, os depósitos podem levar até dez anos para serem descongelados. Quando realizou o congelamento de todo o dinheiro depositado acima de US$ 4 mil (quantia máxima que podia ser sacada), em março, o governo prometeu devolver o dinheiro em um ano. O problema é que o governo não teria reservas suficientes para converter em dólares os sucres confiscados.

Há esquemas diferentes de devolução do dinheiro para correntistas de bancos em funcionamento e para os que foram fechados por insolvência. Para depósitos congelados no valor de até US$ 4 mil, os clientes de bancos abertos poderão sacar o dinheiro na data de vencimento dos investimentos. Já os que têm dinheiro em bancos fechados terão de esperar um ano e receberão 7% de juros – que, com a dolarização, caíram de 110% para 20%.

Os que têm depósitos acima de US$ 4 mil em bancos abertos receberão títulos resgatáveis em sete anos. Já aos correntistas de bancos fechados serão entregues papéis resgatáveis em dez anos. Em ambos os casos, a remuneração também será de 7% ao ano, que é a meta de taxa de juros estipulada pelo governo.

Centenas de pessoas acorreram às agências bancárias em todo o país para protestar contra esse esquema e exigir o descongelamento de suas contas.

Com a inflação anual de 60% e juros que chegaram a 150%, muitos equatorianos, sobretudo os mais velhos, viviam dos rendimentos de seus depósitos, freqüentemente formados com dinheiro enviado pelos filhos do exterior.

Mas as reservas do governo, que são oficialmente US$ 850 milhões – embora muitos economistas duvidem que cheguem a tanto -, não dariam para converter esses depósitos em dólares. O decreto de dolarização garante a conversão de todos os sucres em dólares, na cotação de 25 mil para 1.

Essa cotação, definida no domingo, já representou súbita valorização do dólar, que na sexta-feira era vendido por menos de 22 mil sucres. Mesmo assim, a conversão de toda a moeda nacional em circulação consumirá quase todas as reservas: cerca de US$ 650 milhões.

O governo da Província de Guayas, cuja capital é Guayaquil, centro da produção do país, ameaçou impor controle de preços, caso continuem os aumentos abusivos. Os gêneros de primeira necessidade registraram aumentos de até 100% a partir de segunda-feira. Os comerciantes dizem que estão apenas repassando os aumentos impostos pelos fornecedores e acusam os atacadistas de reter os produtos para especular com os preços. Os produtores alegam que os aumentos são para cobrir o incremento nos preços dos insumos importados, causado pela valorização do dólar.

 

Alguns produtos ficaram escassos. No caso da carne, a produção está sendo desviada para exportação. Os produtores vendem a libra (cerca de meio quilo) por 11 mil sucres no mercado interno, quando podem exportar pelo triplo do preço. Alimentos mais populares, como o pãozinho, estão simplesmente deixando de ser produzidos porque as padarias não conseguem repassar o aumento de custo. O pãozinho subiu de 800 para 1 mil sucres e, com isso, caíram as vendas.

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