Pela primeira vez, presidente paraguaio desculpa-se por escândalo de paternidadee diz que será ‘pai afetuoso’
ASSUNÇÃO
Depois de 16 dias desde a eclosão do escândalo de paternidade, que já envolve pelo menos três crianças, o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, pediu ontem desculpas pela primeira vez. Em entrevista coletiva, o ex-bispo garantiu, no entanto, que não vai renunciar e denunciou tentativas de encurtar o seu mandato. Lugo recusou-se a assumir a paternidade de duas das três crianças e a informar quantos filhos tem, afirmando que esse assunto será tratado por seu advogado, Marcos Fariña.
“Sou um ser humano e portanto nada humano me é alheio”, disse Lugo, lendo um texto preparado, antes de responder às perguntas, no Palácio de López, sede do governo. “Ao mesmo tempo em que peço perdão, quero ratificar que minha versão será sempre a verdade. Na tempestade de alusões sobre a minha pessoa, resolvi responder com prudência, o que não é a mesma coisa que ocultar informações. Um por um, responderemos cada caso.”
Até agora, Lugo, de 57 anos, assumiu a paternidade apenas do filho de 1 ano e 11 meses de Viviana Carrillo, com quem, segundo ela, manteve um relacionamento de 10 anos, iniciado quando ela tinha 16. Outras duas mulheres, a camelô Benigna Leguizamón e a professora Damiana Morán, afirmam ter filhos com o presidente. As três crianças foram concebidas quando Lugo ainda não tinha sido liberado pelo Vaticano do “estado clerical”, o que inclui o celibato. No caso do filho de Benigna, de 6 anos, ele ainda era bispo de San Pedro, província no centro do país.
“Nunca esteve em meu ânimo prejudicar ninguém, menos ainda um filho menor nem mulher alguma”, disse Lugo. “Estarei sempre disponível aos requerimentos esclarecedores da Justiça. Interessa-me responder às pessoas concretas para que saia à luz a realidade.” O presidente atribuiu sua atitude a práticas enraizadas no país: “Eu, pessoa humana e imperfeita, fruto de processos históricos, perfil da minha cultura, assumirei, com todas as responsabilidades presentes e futuras, as situações que me concernem.”
Lugo garantiu que será, a partir de agora, um pai atencioso: “Quando a verdade nos acompanhar plenamente, verão este presidente como um pai disposto a proporcionar afetos e cuidados.” Ele prometeu também promover um “dramático esforço de ações de governo em favor da maternidade, da infância e das mulheres”.
À pergunta de um jornalista sobre se renunciaria ao cargo, Lugo garantiu que não. “Os mais de 800 mil paraguaios que depositaram sua confiança na mudança merecem que ela não se detenha”, disse ele, assegurando que só entregará o cargo em agosto de 2013, quando termina o seu mandato. Por causa do escândalo, o presidente cancelou uma viagem que faria ontem a Washington, para pedir ajuda financeira ao Banco Mundial. No seu lugar, foi o ministro da Fazenda, Dionisio Borda.
“Quero dar a maior tranquilidade possível ao povo paraguaio diante dos rumores de algum suposto plano de desestabilização ou de conspiração”, disse o presidente. “Os que cobiçam o poder, que fazem intrigas debaixo da mesa, podem esperar sentados até que o tempo chegue para ingressar no poder pela única porta da frente, a vitória legítima de eleições livres, como fizemos em 20 de abril do ano passado.”
O senador Alfredo Jaeggli, do Partido Liberal, que apóia o governo, pediu ontem a renúncia do presidente. Ele propôs que o vice-presidente, Federico Franco, de seu partido, assuma convocando um “pacto com a oposição para promover um processo de transição e terminar com o plano de Lugo de levar o país ao socialismo do século 21 de Hugo Chávez”.
Franco reiterou ontem que não vai aproveitar os escândalos de paternidade para pedir a saída de Lugo. Apoiado por pequenos partidos de esquerda, Lugo tem como principal sustentação no Congresso o Partido Liberal, de Franco, com o qual se aliou para derrotar os colorados, que estavam no poder havia 61 anos. Lugo, no entanto, tem se aproximado de uma ala do partido contrária a Franco, o que levou a um distanciamento entre o presidente e o vice. Ambos estão em negociação para se reaproximar, o que deve resultar em cargos no governo para aliados de Franco. Na entrevista de ontem, Lugo admitiu que deve substituir alguns ministros, depois de uma reforma na semana passada que privilegiou liberais adversários do vice.