Novo governo paraguaio pressionará Mercosul

ASSUNÇÃO – O próximo governo paraguaio deve pressionar o Mercosul a prestar assistência econômica para o país.

Os dois principais candidatos à presidência, o colorado Raúl Cubas e o liberal Domingo Laíno, defenderam condições especiais para o Paraguai no Mercosul, durante debate transmitido ao vivo pelo canal Tevedos, na noite de quarta-feira. De acordo com as pesquisas, um dos dois deve vencer a eleição de domingo, por margem bastante estreita de votos.

Quem levantou a questão foi o candidato da oposicionista Aliança Democrática. “Depois da cláusula democrática, que foi muito importante para o Paraguai , precisamos de uma cláusula de solidariedade”, disse Laíno. A idéia seria criar um fundo de assistência econômica para o Paraguai, ao estilo do que a União Européia mantém para os países membros menos desenvolvidos.

Laíno citou os exemplos da Espanha e de Portugal, que visitou recentemente.

Segundo ele, dos 10 mil quilômetros de estradas asfaltadas nos últimos anos na Espanha, cerca de 6 mil foram custeados pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento. Em Portugal, quando elogiou o estágio de desenvolvimento do país, Laíno disse ter ouvido como resposta de membros do governo que “o mérito se devia à União Européia”.

O candidato liberal acha que o Paraguai, como país mais pobre do Mercosul, deve receber o mesmo tipo de benefício. “Tanto o Brasil quanto a Argentina vão entender”, disse Laíno, que esteve recentemente com o presidente Fernando Henrique Cardoso, em Brasília. Raúl Cubas concordou. Depois de ressalvar que não anda “fazendo turismo por aí”, afirmou que o Paraguai tem de ser auxiliado para alcançar “condições de desenvolvimento similares” às de seus parceiros no Mercosul.

Foi um dos raros momentos de harmonia. Não que se possa divisar grandes diferenças de programas entre a chamada Lista 1, dos colorados, e a Aliança Democrática, que reúne, desde agosto, o Partido Liberal Radical Autêntico (oriundo do velho PL) e o Partido Encontro Nacional.

Quando se falou de temas concretos, como saúde, educação, emprego e segurança, os dois candidatos limitaram-se a vagas e boas intenções, sem explicar como custeariam o bem-estar prometido, com um déficit público que beira os 3%.

Laíno e Cubas discordaram menos do que se atacaram mutuamente. O economista liberal, mais astuto, castigou o engenheiro colorado, com referências à divisão interna de seu partido e ao espectro do general da reserva Lino César Oviedo, à sombra do qual se move a candidatura de Raúl Cubas. Fustigar Cubas não é difícil e não foi só Laíno quem se encarregou disso.

Uma radialista observou que, quando Cubas chegou para o debate, no Centro Paraguaio-Japonês, a torcida colorada gritou o nome de Oviedo. E perguntou:

“O sr. acha que não tem capacidade própria para ser candidato a presidente?”

Cubas, um pouco lívido, balbuciou algo sobre a necessidade de a jornalista “visitar um oftalmologista”.

Outro jornalista quis saber qual o montante da fortuna pessoal declarada por Cubas, quando da oficialização de sua candidatura. “Entreguei minha papelada às autoridades e não creio que seja assunto de interesse seu”, retrucou o candidato, sob os aplausos da cativa claque colorada. Cubas foi sócio do presidente Juan Carlos Wasmosy em polpudos contratos de construção na hidrelétrica de Itaipu.

Quando Cubas contra-atacou, insinuando que o passado de Laíno também não é grande coisa – “somos poucos aqui e todos se conhecem” -, o candidato liberal devolveu: “Sim, todos conhecem a mansão do engenheiro Cubas.”

Para além dos ataques pessoais, Laíno procurou argumentar que uma vitória colorada seria uma ameaça à governabilidade, por causa das divisões do partido. O processo de escolha do candidato colorado foi extraordinariamente conturbado.

O general Oviedo, acusado de ter liderado uma tentativa de golpe militar há dois anos, venceu as eleições internas do partido, tornando-se candidato a presidente, com Cubas como seu vice. O candidato do presidente Wasmosy, Carlos Facetti, chegou em terceiro lugar. Em segundo, ficou o presidente do partido, Luis María Argaña, que odeia Wasmosy mortalmente.

Argaña venceu as prévias coloradas de 1992, mas, segundo a sua versão e a de não-wasmosystas, uma operação fraudulenta – com contagem suspensa e urnas desaparecidas -, comandada por ninguém menos que Oviedo, garantiu a candidatura de Wasmosy.

Em 1997, a história repetiu-se. Dessa vez, foi Oviedo quem ganhou, mas não levou. Um ano e meio depois da tentativa de golpe, e em seguida às eleições internas coloradas, Wasmosy, que não esperava a vitória de Oviedo, montou um tribunal militar, que condenou o general da reserva a 10 anos de prisão por insubordinação.

Há três semanas, quando as pesquisas indicavam vitória fácil para Oviedo, a Corte Suprema confirmou o veredicto, tornando-o inelegível. Só então redefiniu-se a chapa colorada, com Cubas para presidente e Argaña para vice.

O atual vice-presidente, Angel Roberto Seifart, alinhou-se com o popular Oviedo e não fala com Wasmosy. Os colorados tiveram dois encerramentos de campanha: um com Wasmosy e outro com Cubas. Argaña e Cubas, por sua vez, também parecem irreconciliáveis. Lideram facções rivais e Cubas apóia incondicionalmente Oviedo, que Argaña não perdoa.

 

“Seguiremos tendo um presidente que não fala com seu vice?”, perguntou Laíno, para advertir: “Se não há governabilidade, não há investimentos externos.” Cubas procurou inverter o argumento, pondo em dúvida a durabilidade da aliança entre liberais e “encuentristas”. Ao que Laíno respondeu usando o Brasil como exemplo: “No governo do ilustre Fernando Henrique Cardoso, o presidente é do PSDB e o vice, Marco Maciel, é do PFL.”

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