ASSUNÇÃO – A menos de uma semana das eleições gerais no Paraguai, marcadas para o dia 10, os grupos rivais no interior do Partido Colorado romperam “o pacto de convivência”, partindo para a disputa mais divididos do que nunca.
O estopim foi a decisão do presidente Juan Carlos Wasmosy de comandar um comício ontem à noite em Assunção. O próprio candidato a presidente, Raúl Cubas, decidiu não participar do comício, alegando que estaria em um debate.
O pacto de convivência pressupunha o afastamento do presidente Wasmosy da campanha eleitoral, condição imposta pelos partidários do general Lino Oviedo. Entretanto, Wasmosy calculou que, na última semana da corrida eleitoral, poderia tentar assumir a frente da campanha e colher os louros de uma eventual vitória. As pesquisas de opinião divergem, algumas prevendo a vitória da Aliança Democrática, de oposição, e outras, a dos colorados, que governam o Paraguai há cinco décadas.
Sem a cooperação entre wasmosystas e oviedistas – hoje a militância mais numerosa e organizada do partido -, a vitória colorada se torna ainda mais difícil. Ontem à noite, o dirigente oviedista Enrique González apareceu no noticiário da televisão acusando Wasmosy de “traição” e de “conspiração”. De acordo com González, o presidente aliou-se secretamente à Aliança Democrática, da oposição, para levar os colorados à derrota.
O pacto de convivência havia sido firmado no mês passado, quando da confirmação da candidatura de Cubas a presidente e de Luis María Argaña a vice. A definição seguiu-se à decisão da Corte Suprema de manter a sentença de 10 anos de prisão para o general Lino Oviedo, condenado por um tribunal militar extraordinário, sob acusação de liderar uma tentativa de golpe militar, em abril de 1996.
Cubas era o candidato a vice de Oviedo, na chapa vencedora das eleições prévias do Partido Colorado, em setembro. Argaña era o candidato à presidência da chapa derrotada nas prévias coloradas. Uma vez tirado do páreo o popular general Oviedo, condenado às pressas pelo tribunal militar – formado por Wasmosy – depois de sua vitória nas prévias, formou-se a chapa Cubas-Argaña. Tanto Cubas quanto Argaña detestam Wasmosy.
No sábado, diante da decisão de Wasmosy de entrar na campanha, a mulher do general preso, Raquel de Oviedo, atacou duramente o presidente. Durante comício na cidade de Coronel Oviedo (que não tem relação com o nome de seu marido), Raquel afirmou: “Wasmosy é um liberal que depois passou para as fileiras do Partido Colorado, e com todas as suas ações está causando uma grande briga dentro do coloradismo”, antecipando a tese conspirativa que seria exposta ontem pelo dirigente colorado Enrique González.
Aparentemente em represália ao ataque, o presidente determinou que as visitas ao general Oviedo, preso na 1.ª Divisão de Infantaria, fossem restringidas à sua mulher, filhos e advogados. No domingo, o presidente da Associação de Proprietários de Rádios Privadas trocou socos com um capitão do Exército, ao tentar entrar na prisão, acompanhado de cerca de dez jornalistas.
O clima é tenso em Assunção, sobretudo nas imediações do Tribunal Superior de Justiça Eleitoral. No domingo à noite, cerca de 50 policiais montaram guarda na porta do tribunal, por causa de rumores de que três ou quatro caminhões traziam um grupo do interior, para causar distúrbios no local. Há várias querelas entre o tribunal e os colorados, que o acusam de “oposicionista”.
O tribunal tem denunciado tentativas de fraude por parte dos colorados, que, por sua vez reclamam das listas de eleitores autorizados a votar e da composição das mesas eleitorais. O candidato Raúl Cubas se declarou ontem “preocupado” com o critério de integração das mesas. A Aliança Democrática, como é composta por dois partidos, terá dois fiscais em cada mesa, enquanto os colorados contarão apenas com um.
Os colorados pedem que os dois grupos tenham o mesmo número de fiscais. O tribunal alega que está seguindo o Código Eleitoral. Apesar dessas desavenças, Cubas respondeu que “sim” à pergunta fatídica de uma repórter, sobre se os colorados respeitarão os resultados das eleições. É que, pela primeira vez em cinco décadas, os paraguaios estão diante da possibilidade de alternância partidária.