Ele tanto explora o misticismo indígena como se apresenta como economista de Stanford
LIMA — Enquanto Alejandro Toledo expunha suas propostas de governo à imprensa estrangeira, na tarde de sexta-feira, um pequeno grupo de mulheres o esperava na saída para recordar uma incômoda passagem de sua vida. Aos gritos de “covarde”, empunhavam cartazes com a foto de Saraí, de 13 anos, suposta filha não reconhecida do candidato. Lá dentro, Toledo desconversava:
“Se a Justiça ordenar que eu faça teste de DNA, obedecerei”, sabendo que o caso foi arquivado.
Noutro escândalo, em que ele teria participado de uma orgia regada a drogas com três garotas de programa, sua resposta é mais criativa: diz que foi vítima de uma armadilha da polícia política de Alberto Fujimori, que o seqüestrou e drogou para destruir sua reputação. Os deslizes morais do candidato incomodam muitos peruanos. “Toledo é um pecador, que não sabe nem fazer o nome do Pai”, condenava Elena Chávez, uma senhora de traços indígenas, no comício de Alan García, na quinta-feira, em Lima.
À inconstância moral de Toledo se soma uma personalidade ambígua e mutante.
Em seus comícios, ele explora o misticismo indígena, apresentando-se como a reencarnação do imperador inca Pachacútec. Ao mesmo tempo, ostenta as credenciais de economista formado em Stanford e ex-assessor de organismos internacionais. “Quando eu era inteligente, antes de entrar para a política, dava um curso chamado Reengenharia Mental para uma Economia Globalizada”, lembra, para ensinar que “a globalização é um fato, não é tema ideológico, mas de gerência das vantagens e desvantagens”.
Na campanha para o primeiro turno, Toledo se apresentava nos comícios sempre de camisa branca e calça jeans. Já na corrida para o segundo turno, passou a usar terno, procurando contrabalançar a imagem de estadista do rival. No início da campanha para o segundo turno, gravou um programa atacando o governo de García. Com a reação da opinião pública contra a beligerância, mudou de tática: passou a usar Fernando Olivera, o congressista que comprou o primeiro “vladivideo”, por US$ 100 mil, candidato derrotado no primeiro turno, para fazer o trabalho sujo, em anúncios pagos na TV.
Segundo pesquisa qualitativa do instituto Analistas e Consultores, Toledo vence García em 9 de 12 quesitos, todos ligados a temas objetivos, como a capacidade de captar recursos estrangeiros, melhor equipe e mais respeito pela lei. Já as qualidades atribuídas a García são de caráter mais pessoal:
conhece mais a realidade nacional, está mais identificado com o povo e tem mais carisma.
García é visto como um pai protetor: em seu governo, aumentou salários e criou programas assistenciais — ainda que ao custo de déficit público e inflação —, além de cultivar a imagem de bom pai de família. Toledo, que esteve divorciado da mulher, Eliane Karp, por dez anos, representa o oposto, não só pelo histórico familiar, mas por sua abordagem mais fria e racional da economia. “Se os peruanos votarem com o coração, vão eleger García”, resume Manuel Torrado, diretor do instituto de pesquisas Datum. “Se votarem com o bolso, escolherão Toledo.”