Lourival Sant’Anna – Quinta-feira, 26 de julho de 2001
Montante desviado causa impacto de 3,6% sobre o PIB do país, conclui relatório
LIMA — A corrupção durante a década de governo do presidente Alberto Fujimori (1990-2000) custou ao Peru US$ 870 milhões. Se não tivesse sido desviado, esse dinheiro poderia representar um adicional de 6,5% nos investimentos no país, com um impacto de 3,6% sobre o Produto Interno Bruto (PIB). Esse crescimento da economia teria permitido a criação de mais de 160 mil postos de trabalho, ou 1,4% da população economicamente ativa.
Os cálculos foram divulgados pelo ministro da Justiça, Diego García Sayán, durante a apresentação do relatório final da Comissão Anticorrupção, grupo independente formado por representantes dos três poderes, da sociedade civil e da Igreja. O trabalho de três meses resultou em 650 pessoas investigadas, 282 indiciadas, 46 mandados de prisão expedidos e 32 pessoas presas. Do montante desviado, US$ 205 milhões foram repatriados, segundo o ministro, de contas nas Ilhas Cayman, na Suíça e nos Estados Unidos.
Num gesto simbólico, o presidente Valentín Paniagua entregou o calhamaço para o presidente eleito, Alejandro Toledo, que toma posse no sábado. “O sr.
é o depositário da confiança nacional”, disse Paniagua a Toledo, durante a cerimônia, no fim da tarde de terça-feira, no salão dourado do Palácio do Governo, uma réplica do salão principal do Palácio de Versalhes.
“Aqui estão depositadas as esperanças não só deste governo provisório, mas de muitos setores do país”, acrescentou Paniagua, que assumiu em novembro, na qualidade de presidente do Congresso, depois que os dois vice-presidentes renunciaram e Fujimori fugiu para o Japão e acabou destituído pelos congressistas.
“A corrupção e a violação dos direitos humanos são duas faces da mesma moeda, a impunidade”, disse Toledo, numa referência também à Comissão Verdade, que investiga a atuação de grupos de extermínio a partir da restauração da democracia, em maio de 1980. “Não sou partidário da vingança e da caça às bruxas, mas também não sou partidário da impunidade.”
O presidente eleito mantém o país em suspense quanto à composição de seu futuro governo. O único nome confirmado é de Pedro Pablo Kuczynski, que foi seu assessor de campanha e será o ministro da Economia. De resto, só há especulações.
Toledo chegou a dizer, na terça-feira, que anunciaria os nomes no domingo.
Mas, por tradição, e segundo a programação oficial, o presidente toma posse sábado de manhã no Congresso e os ministros prestam juramento na tarde do mesmo dia (Dia da Independência do Peru), no Palácio do Governo. No domingo, Toledo estará nas ruínas de Machu Picchu, para uma cerimônia de posse simbólica perante os deuses incas.