PARAMARIBO – O garimpeiro pernambucano Antonio Almeida dos Santos, 38 anos, vive há sete no Suriname. Até hoje, está ilegal.
“A gente procura legalizar os papéis, mas a embaixada do Brasil não sabe como”, diz o garimpeiro, que ontem mesmo esteve na seção consular em Paramaribo. Sua mulher voltou de férias do Brasil há uma semana, e ainda não conseguiu carimbar o visto, renovável a cada dois ou seis meses, dependendo do humor do burocrata.
Para renovar, é preciso ter em mãos um bilhete de volta ao Brasil. A ida e volta Paramaribo-Belém custa US$ 376 e vale por 15 dias, sendo, portanto, perdida. O carimbo do visto custa outros US$ 163. “Fica muito caro para nós”, diz Antonio, que, como os cerca de 15 mil brasileiros no Suriname veio em busca do eldorado da mineração de ouro e dos negócios que gravitam em torno dele. Além dos garimpeiros, há prostitutas, comerciantes, taxistas. A maioria provavelmente ilegal, embora não haja dados precisos.
Antonio está duplamente ilegal. Ele explora o garimpo em Goianol, na Guiana Francesa. Vai de carro até a fronteira, uma viagem de duas horas e meia, e entra no departamento ultramarino francês clandestinamente, para mais um dia e meio de viagem até o garimpo de ouro. Vale a pena? Os bons tempos se foram, o ouro está minguando, mas mesmo assim ele acha que sim. “Aqui a gente trabalha mais tranqüilo”, compara o pernambucano de Araripina. “Não proíbem as áreas que a gente explora. Aqui tem muito assalto, mas é menos do que no Brasil.”
O maranhense José Galvão Silveira, 38 anos, também se queixa da escassez de ouro. Seu garimpo fica na Água Azul, a quase 200 quilômetros de Paramaribo, ou três horas de carro. Ali por volta de 1997, ele chegou a tirar 450 gramas de um barranco, que leva cerca de 45 dias para explorar. Na época, essa quantidade era vendida por mais de US$ 3 mil.
Hoje, o grama de ouro é comprado, dependendo da pureza, por US$ 12,60 a US$ 13,20 nos escritórios de Paramaribo – os maiores são o chinês Suntex e a brasileira Ouro Minas. Donos de máquinas de extração, como Antonio e José Galvão, dao 10% do que extraem para os “pretos”, como eles chamam os nativos donos das terras, e 30% para os empregados – seis, no caso de José Galvão. “No Brasil também tem ouro, mas lá não se pode trabalhar. Aqui, a gente trabalha”, diz ele. O garimpo emprega mercúrio, poluindo os rios.
Há dez anos no Suriname, Galvão acha muito importante um acordo de imigração. “A gente sem papel não tem direito algum”, diz Galvão, que está legal, não consegue regularizar a situação de um de seus filhos. “Não sei o que a embaixada do Brasil está fazendo aqui.” Na verdade, não depende dela.
Até aqui, muitos brasileiros têm tido de pagar propinas que chegam a US$ 200 para funcionários carimbarem vistos de seis meses. “Aqui é tudo máfia”, queixa-se um brasileiro.
Lourival Sant’Anna viajou a convite do Ministério de Relações Exteriores