Líder venezuelano é vago sobre nova etapa, mas diz que América Latina deve seguir caminho de reeleições ilimitadas
CARACAS
Habituada a classificar sua história com números ordinais – “4ª, 5ª República” -, a Venezuela amanheceu ontem sob um novo título: tem início o “3º ciclo da Revolução Bolivariana”, informou na noite de domingo o presidente Hugo Chávez, em seu discurso da vitória do referendo que introduz a reeleição ilimitada. Chávez organiza a história recente em ciclos de dez anos. O próximo já pressupõe a sua quarta eleição em 2012 (ele elegeu-se em 1998, em 2000, sob nova Constituição, e em 2006).
“Com esta vitória, começa o terceiro ciclo histórico da Revolução Bolivariana, de 2009 a 2019”, anunciou o presidente. “Estou pronto. Abrimos as portas do futuro para continuar transitando o caminho da dignidade do homem, da mulher, do povo, e esse caminho se chama socialismo.”
Em discursos anteriores, Chávez tinha se referido aos ciclos prévios. O primeiro começa em 1989 com o Caracazo, a revolta popular contra o levantamento de subsídios pelo presidente Carlos Andrés Pérez, e termina com a posse de Chávez para o primeiro mandato, em 1999. Nesse período, Chávez liderou, em 1992, uma tentativa fracassada de golpe. Com sua chegada ao poder pelo voto, começa o segundo ciclo, em vigor atualmente.
Em seu inflamado pronunciamento da noite de domingo, transmitido em cadeia de rádio e TV, Chávez explicou que a eleição ilimitada institui a “pátria eterna”, baseada no socialismo. Segundo ele, a “revolução” foi iniciada com a declaração da independência da Venezuela, em 1811, por Simón Bolívar, e deve ser continuada 200 anos depois.
A reeleição ilimitada inaugura uma nova “doutrina constitucional”, teorizou ele, porque coloca nas mãos do povo a decisão sobre quem deve exercer o poder. Todas essas considerações foram pontuadas por gritos de “O comandante não vai embora”, dos milhares de partidários que se reuniram em frente à sacada do Palácio Miraflores, de onde Chávez discursou logo depois do anúncio de sua vitória pelo Conselho Nacional Eleitoral.
O “sim” venceu o referendo por 54% a 46% dos votos válidos. O comparecimento, de 67%, foi alto para os padrões venezuelanos. Chávez já havia tentado introduzir a reeleição ilimitada, junto com outras reformas constitucionais que concentravam poder no governo central e introduzia formas coletivas de propriedade, em referendo de dezembro de 2007, quando o “não” venceu por 51% a 49%.
Chávez considera que, ao submeter cada emenda constitucional a consulta popular (como prevê a Constituição que ele promulgou em 1999), e ao permitir que o povo decida se deve reeleger ou não seus governantes, indefinidamente, a Venezuela está na “vanguarda” mundial. Ele acha que a América Latina, em particular, deverá seguir esse caminho.
Chávez relatou que a primeira mensagem de felicitações veio do líder cubano Fidel Castro. Ele leu: “Querido Hugo, felicidades para você e para seu povo por uma vitória que por sua magnitude é impossível medir.” Na véspera, Fidel tinha escrito um artigo afirmando que “o destino dos povos de ‘Nossa América’ dependerá muito dessa vitória e será um fato que influirá no resto do planeta”. Chávez respondeu: “Essa vitória é sua, também, Fidel, do povo cubano e dos povos da América Latina.”