Chávez faz ameaça a empresários anti-reforma

Empresas que trabalham pelo ‘não’ no referendo podem ser confiscadas

 

CARACAS

O presidente Hugo Chávez ameaçou confiscar as empresas filiadas à Federação de Câmaras e Associações de Comércio e Produção da Venezuela (Fedecámaras) por sua oposição à reforma constitucional, que será submetida a referendo no domingo. “Se o presidente da Fedecámaras insistir em suas ameaças ao governo bolivariano, tiro-lhes todas as empresas que eles têm”, disse Chávez, durante um evento com empresários que apóiam a reforma, num hotel em Caracas, na noite de segunda-feira.

“O presidente da Fedecámaras, assustado, ameaçou-nos de fazer tudo que tivesse que ser feito para evitar a aprovação da reforma constitucional. Bom, compadre, manda brasa”, disse Chávez, diante da platéia dos Empresários pela Venezuela (Empreven), pró-governo. “Se a Fedecámaras quer nos enfrentar, quer enfrentar o país, adiante, Fedecámaras, mas vão ficar sem ‘Fe’, sem ‘de’ e sem ‘cámaras’.” Integrantes da Empreven disseram estar prontos para “substituir” a Fedecámaras, criada em 1944.

Foi uma resposta a um comunicado divulgado na manhã de segunda-feira pelo presidente da Fedecámaras, José Manuel González, pedindo que os venezuelanos se unissem para votar “não” no referendo do domingo. “O trabalhador venezuelano aprecia os postos de trabalho de nossas indústrias, comércios, fábricas privadas, e sem consulta, de forma contrária a nossa maneira de ser, querem impor-nos uma proposta que atenta aberta e definitivamente contra as oportunidades de trabalho estável que representa o setor privado venezuelano”, diz o comunicado.

A proposta, que modifica 69 artigos da Constituição, introduz uma forma de “propriedade social”. Por meio dela, os conselhos populares, criados pelo governo Chávez, poderão possuir empresas. Chávez nega que vá eliminar o direito à propriedade privada. 

No comunicado, a Fedecámaras se solidariza com a Igreja católica, outro alvo da incendiária retórica de Chávez. Em entrevista a jornalistas simpáticos ao governo, na noite de domingo, Chávez fez uma advertência aos dirigentes católicos, que qualificam a reforma de “anticristã”: “Se continuarem dizendo essas coisas, vamos ter que fazer algo. É triste ver um padre na prisão, mas paciência tem limite.” Em discurso num evento de mulheres a favor do “sim”, Chávez chamou ontem os dirigentes católicos de “fariseus e hipócritas”. 

Já o vice-presidente Jorge Rodríguez anunciou ontem que ia denunciar a Conferência Episcopal da Venezuela (CEV) perante o Conselho Nacional Eleitoral, para que investigue se a entidade está atuando como “partido político”. Segundo Rodríguez, que lidera a mobilização em favor do “sim” no referendo, integrantes do “comando delinqüencial da resistência” (Comando Nacional da Resistência, contrário à reforma) se reuniram no domingo no Instituto Diocesano, em Maracay, “planejando as tramóias ocorridas ontem em Carabobo e Arágua (Estados no norte do país)”, onde confrontos deixaram um morto e seis feridos, na segunda-feira. “Se é um partido político, que determine se se inscreveu no bloco do ‘não’, e se cumpriu com os requisitos exigidos”, pediu Rodríguez. 

Apesar das ameaças, o vice-presidente da CEV, monsenhor Roberto Lückert, voltou à carga ontem. “Ele (Chávez) vai tentar ganhar de qualquer jeito, mas vai ser tal a avalanche de votos (contra), que vai ficar difícil para ele fazer a trapaça que sempre fez”, disse o dirigente católico à Rádio Caracol, de Bogotá. 

Rodríguez, que chefia o Comando Zamora, de mobilização pelo “sim”, acusou os oposicionistas da morte do operário José Aníbal Yépez, em confronto com manifestantes, em Guacara (Carabobo). Yépez, 19 anos, cuja mulher está grávida de seis meses, trabalhava na companhia estatal Petrocasa. Ele estava num grupo de operários que queriam passar com material de construção por uma avenida ocupada por manifestantes oposicionistas. Segundo o vice-presidente, o autor dos disparos é o dono de um bufê de festas. Quatro pessoas foram detidas.

 

“Deve-se aplicar todo o peso da lei sobre o assassino, sem contemplação nenhuma. Trinta anos de cárcere”, disse Chávez, no evento com as mulheres a favor do governo, num ginásio de Caracas. “Sabemos quem são os autores intelectuais, e para cada porco chegará seu sábado”, sentenciou. “Há autores intelectuais no Pentágono, mas aqui também há autores intelectuais que cumprem ordens do império norte-americano”, prosseguiu o presidente. “Não creiam que a impunidade na qual estão se movendo será eterna. Chegará o dia em que teremos as provas suficientes, sempre no marco da Constituição, que a partir de domingo será vermelhinha.”

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