Analista militar morto na terça-feira mostrou vínculos do presidente com movimentos revolucionários
CARACAS
Hugo Chávez possui ligações antigas com a guerrilha colombiana. Ao sair da prisão, em 1994, após cumprir pena pela tentativa de golpe de dois anos antes, Chávez foi à Colômbia, propor ao então guerrilheiro Gustavo Petro a criação de uma Internacional Bolivariana. Petro era integrante do M-19, hoje convertido em partido político, pelo qual ele se elegeu senador.
O M-19 era parte de uma extensa rede de contatos internacionais mantidos pelo Partido da Revolução Venezuelana (PRV), cujo fundador e líder até hoje, Douglas Bravo, era o dirigente civil do Movimento Bolivariano Revolucionário 200 (MBR-200), criado por Chávez em 1982.
Então então tenente do Exército, Chávez esteve prestes a ir ao Iraque em 1981, para uma reunião com Saddam Hussein, que se frustrou pela complicada logística envolvida na viagem secreta de um militar da ativa. O PRV tinha relações também com a Líbia, cujo ditador, Muamar Kadafi, recebeu por duas vezes o então major William Izarra, da Força Aérea, companheiro de Chávez na conspiração. O grupo tinha fortes ligações com China, Vietnã, Argélia, Coréia do Norte e Cuba, claro.
Essas relações estão descritas no livro Chávez com Uniforme, do analista político e especialista em assuntos militares Alberto Garrido, que morreu de câncer na terça-feira. Numa de suas últimas entrevistas, no dia 22, Garrido imprimiu para o repórter do Estado a segunda edição ampliada de seu livro Guerrilha e Conspiração Militar na Venezuela, que não chegou a lançar.
No livro, o ex-guerrilheiro Francisco Prada revela que, nos anos 60, o PRV convidou Ernesto Che Guevara a instalar-se na Venezuela. “Se firmarem um pacto com a URSS, a revolução é possível”, condicionou o Che. “Se não, os ianques os esmagam.” Como não firmaram, o guerrilheiro argentino seguiu para a Bolívia.