Em menos de 6 horas, poder passou por três mãos

 

CARACAS – A reação das forças leais a Hugo Chávez começou no início da tarde de sábado, na 42.ª Brigada de Pára-Quedistas de Maracay, 108 quilômetros a sudoeste de Caracas.

Em seguida, foi a vez da Base Aérea de Libertador, na Grande Caracas. Os anúncios dessas sublevações logo se espalharam, e desencadearam declarações de lealdade a Chávez em diferentes pontos do país.

Entre as unidades que seguiram o exemplo, houve uma que desempenhou papel decisivo: o Regimento da Guarda de Honra, com um contingente de 3 mil homens, responsável pela proteção do Palácio Miraflores. O subcomandante desse regimento, o tenente-coronel José Morao, leu um comunicado declarando lealdade a Chávez, transmitido pelo sinal da emissora estatal VTV, que tinha saído do ar desde a queda do presidente.

No início da tarde, circulou o rumor dentro do Palácio Miraflores, cercado por milhares de manifestantes pró-Chávez, de que a sede do governo ia ser bombardeada. Os ministros do novo governo, que tinham ido tomar posse, saíram correndo, junto com seus convidados. Os que não conseguiram encontrar uma rota de fuga segura ficaram confinados no palácio. O presidente interino Pedro Carmona saiu em comboio com os seus comandantes das Forças Armadas, rumo ao Forte Tiuna, que, de reduto, se converteria em seu cativeiro.

Uma repórter do jornal El Nacional, que tinha ido ao palácio para cobrir a posse dos novos ministros, relata um divertido telefonema recebido pelo despacho da presidência nesse momento:

– Sou o presidente Pérez e quero falar com o presidente Carmona, porque me estão chegando informações cruzadas e quero conversar com ele para que explique a situação, identificou-se o ex-presidente Carlos Andrés Pérez, que apoiou o golpe, de seu exílio em Miami.

– Não, a situação aqui é que o palácio está controlado por forças leais, retorquiu o tenente que atendera ao telefone.

– Ah, caramba! Eu disse ao Carmona que a primeira coisa que tinha que fazer era mudar essa oficialidade do palácio. Claro que havia redutos leais a Chávez, suspirou o ex-presidente.

O comandante da Guarda de Honra, coronel Celso Calones, mandou que seus subordinados localizassem os integrantes do governo Chávez e os chamassem para vir reocupar o palácio. Os ministros foram chegando um a um, assim como o presidente da Assembléia Nacional e outras autoridades ligadas ao governo.

Enquanto isso, no Forte Tiuna, os comandantes golpistas, sentindo a mudança do quadro, exigiram que Carmona reinstalasse a Assembléia Nacional, que ele havia dissolvido na véspera. Chávez tem maioria absoluta na Assembléia.

Carmona anunciou o recuo às 17h11. Às 17h53, o presidente da Assembléia, Willian Lara, falou em nome do Parlamento, dizendo que não reconhecia o governo interino. À noite, o vice-presidente Diosdado Cabello, que se havia escondido, chegou finalmente ao palácio. Às 22h11, Cabello prestou juramento a Lara, assumindo a presidência interinamente, até que Chávez reaparecesse.

Um minuto depois, Carmona anunciou sua renúncia, dizendo que acatava a decisão “da Assembléia Nacional”, e se colocando à disposição das forças leais a Chávez.

 

Às 2h20 do domingo, Chávez, que estivera todo esse tempo incomunicado na base naval da Ilha de La Orchila, no Caribe, embarcou num helicóptero rumo a Miraflores, onde pousou às 3h30. Em seguida, recebeu o cargo de volta, das mãos de seu vice-presidente. No mesmo dia, Chávez foi à Base de Maracay, para agradecer pela lealdade.

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