Eleitores em Cabul dizem que sairão para votar se houver segurança
CABUL – As ruas de Cabul estavam semidesertas ontem, feriado da independência do Afeganistão e um dia depois do atentado com carro-bomba que matou 10 pessoas e feriu 55. As calçadas do centro estavam repletas de policiais e guardas de segurança, com seus fuzis-metralhadoras de prontidão.
Às 7h15, três taleban invadiram uma agência do Banco Pashtany, e foram mortos por policiais, deixando a cidade – em alerta vermelho desde o sábado – ainda mais nervosa. Mas a maior parte das pessoas que transitavam nas ruas se mostrava decidida a votar – talvez porque os mais assustados tenham preferir ficar em casa.
“Se as seções eleitorais estiverem bem protegidas, vou votar”, disse Shah Ghassi Mohayuddin, de 46 anos, que vive de fazer consertos em casas. “Se a cidade não estiver segura, não vou sair de casa, porque tenho de sustentar minha família.” Quatro filhos de Mohayuddin morreram em ataques com foguetes do Taleban, que atingiram sua casa, durante a tomada de Cabul em 1996. Restam-lhe oito para criar. Ele próprio perdeu um olho e os estilhaços feriram suas pernas e tórax, assim como de sua mulher.
Mohayuddin não tem candidato: simplesmente deseja votar. “Não decidi em quem, porque não confio em ninguém”, disse ele. “Da outra vez, votei em Hamid Karzai, mas ele não fez nada por nós.”
“Apesar dos atentados, vou votar, porque meu voto pode mudar o futuro do Afeganistão”, aposta Mohammed Jan Mohammadi, de 18 anos, estudante do ensino médio, que trabalha meio período como feirante. “Vou votar em Abdullah Abdullah, porque foi ministro das Relações Exteriores por quatro anos, e sabe governar o país.”
“Com certeza vou votar”, garantiu Ruhollah Bolaghainzada, de 35 anos, que trabalha na construção civil. “Se tiver chegado a minha hora, vou me sacrificar.” Embora seja da etnia tajique, ele é eleitor do deputado Ramazan Bashardost, da minoria hazara, considerado um populista: “Ele é quem cuida do povo pobre.”
Abdul Bassir Nazari, de 24 anos, trabalhava numa borracharia até há 20 dias, quando o dono a vendeu. Ele não vai votar, mas não por causa do Taleban: “Não há nenhum bom líder neste país. A situação vai piorar até termos um bom muçulmano como líder.” Nazari, da minoria túrquica, também não gosta dos taleban: “Lamento muito que eles tenham feito isso conosco. Os atentados suicidas são contra a prosperidade dos afegãos.”
Seema Azimi, de 34 anos, foi a única que confessou: “Tenho medo de sair para votar”. Ela voltou recentemente de Nova York para trabalhar numa organização não-governamental que prestará assistência a crianças órfãs no interior do Afeganistão. O trabalho só vai começar depois das eleições, por questão de segurança.
Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.