O representante do regime Taleban em Islamabad, Sohail Shaheen, descartou ontem a possibilidade de Osama bin Laden, abrigado pelos líderes afegãos há cinco anos, ser expulso do país
ISLAMABAD – “Seria um insulto ao Islã e à sharia (lei islâmica)”, disse ele aos jornalistas. “Se a América tiver provas, aceitamos o julgamento de Bin Laden à luz das evidências”, acrescentou, pedindo que a ONU conduza uma investigação. Shaheen lamentou a morte dos americanos vítimas do ataque.
Mas advertiu o governo dos EUA: “Se eles querem mostrar seu poder, estamos prontos e nunca nos renderemos.” A shura, conselho de líderes religiosos, recomendou na quinta-feira que o regime peça a Bin Laden que deixe “voluntariamente” o Afeganistão. Os Estados Unidos exigem que o suposto mentor dos ataques da semana passada e de outros cometidos nos últimos anos contra alvos americanos lhes seja entregue para julgamento e advertiram que a decisão dos líderes afegãos não é suficiente. “O ultimato (dos EUA) enfureceu os muçulmanos do mundo e pode mergulhar toda a região numa crise”, alertou.
O jornal paquistanês The News, publicado em inglês, noticiou ontem que, segundo fontes do regime afegão, Bin Laden já deixou voluntariamente o Afeganistão na segunda-feira. Uma das fontes contou que o “xeque”, como é chamado o suposto chefe terrorista, deixou o país com os jovens árabes que o acompanham e que juraram dar a vida para protegê-lo.
“Esses árabes educados e comprometidos sabem biologia, química e ciências nucleares, e estão preparados para fazer uso desses conhecimentos para defender muçulmanos no mundo todo”, informou, em mensagem escrita ao jornal, um afegão considerado muito próximo a Bin Laden. Outras fontes especularam que Bin Laden possa ter ido para a Chechênia, cujos líderes separatistas estão em guerra com a Rússia, ou para o Líbano.
Apesar de tudo isso, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Riaz Mohammad Khan, disse ontem, em sua entrevista coletiva diária, que o governo paquistanês ainda tem esperanças de que o Taleban “tome uma decisão pronta que satisfaça a comunidade internacional”. À pergunta sobre o que justificava o otimismo, Khan disse que espera que o regime afegão compreenda a “gravidade” da situação, e lembrou que, em seu comunicado, os ulemas (líderes espirituais) citaram a ONU e a Organização da Conferência Islâmica como possíveis fóruns para resolver o impasse.
Em todo caso, o Paquistão, até há pouco isolado da comunidade internacional por causa de seu apoio ao regime do Taleban, já começa a colher os frutos de seu realinhamento. O governo australiano anunciou o levantamento das sanções comerciais contra o país, “à luz de sua forte posição contra o terrorismo”.
E o Japão anunciou uma ajuda de emergência de US$ 40 milhões, para ajudar o país a lidar com os refugiados originários do Afeganistão.
Mais importante ainda, na quinta-feira o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, Horst Köhler, comunicou que a instituição vai “rever a situação do Paquistão”, a pedido dos Estados Unidos, como parte das medidas para conter a esaceleração mundial e apoiar os países que estão na “linha de frente da luta contra o terrorismo”. O Paquistão pede a renegociação de sua dívida externa, de US$ 60 bilhões, cerca de 10% do Produto Interno Bruto.
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