China desvaloriza yuan pelo 2.º dia

País tenta reverter desaceleração da economia; medidas têm impacto global

O Banco Popular da China voltou nesta quarta-feira a desvalorizar o yuan (ou renminbi, o nome oficial da moeda chinesa), em 1,6%. Foi o segundo dia consecutivo de desvalorização. Na terça-feira, a moeda já havia sofrido a maior desvalorização de sua história, de 1,9%. Os movimentos são uma resposta à desaceleração da produção industrial e dos investimentos na China. E causarão enorme impacto tanto econômico quanto político.

A cotação da moeda chinesa é um dos temas mais explosivos na área de confluência entre  as economia e a geopolítica. A China inunda o mundo com seus produtos industriais de baixo valor agregado, com uma combinação de moeda desvalorizada, mão de obra barata e pouca preocupação com o meio ambiente. Com a receita dessas exportações, formou uma formidável reserva em moeda forte, que lhe permitiu adquirir um grande volume de títulos da dívida dos Estados Unidos e de outros países, além de investir pesadamente na África e na Ásia, elevando a sua projeção no cenário global.

Em resposta a pressões internacionais e internas, esse tripé tem sido alterado nos últimos anos. O yuan se valorizou 25% frente ao dólar desde 2005, quando a China abandonou o câmbio fixo; os salários na indústria têm subido; e o governo tem adotado medidas para atenuar o impacto sobre o meio ambiente, por exemplo reduzindo a participação do carvão na matriz energética e adotando regras mais severas.

Essas medidas por sua vez aumentaram o custo dos produtos chineses. As exportações caíram 8% no mês passado, frente a julho de 2014. As reservas estrangeiras diminuíram de US$ 3,73 trilhões em março para US$ 3,69 trilhões em junho. Os últimos dados indicam que o país pode não alcançar a meta de crescimento de 7% do PIB. A produção industrial cresceu 6,0% em julho, quando a previsão era de 6,6%, depois de ter caído 6,8% em junho. As vendas do varejo e os investimentos também estão subindo menos que o esperado.

Dois dias seguidos de desvalorização recorde no yuan demonstram para o mundo que a China continuará com a mão pesada em sua política cambial, tendo como prioridade seus objetivos macroeconômicos, sociais e políticos internos. A transformação do renminbi em uma moeda de referência internacional, patamar em que se encontram o dólar, o euro e o iene, e que depende da sua livre flutuação, ficará para depois. Uma redução drástica no crescimento econômico levaria, no médio prazo, a questionamentos sobre a eficácia do modelo de planejamento central da economia e a pressões internas por democracia – algo que Pequim receia muito mais do que qualquer reação internacional.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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