Lula se recusa a comentar venda de urânio

Presidente pede ao jornalista do ‘Estado’ que leia nota do ministro da Ciência e Tecnologia

XANGAI – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se recusou ontem a comentar a informação dada na terça-feira pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, de que o Brasil poderia vender sua tecnologia de enriquecimento de urânio, e até mesmo o minério em estado bruto, para a China. “Acho que vocês receberam uma nota hoje do nosso ministro de Ciência e Tecnologia”, disse o presidente, respondendo a uma pergunta do Estado, durante entrevista coletiva em Xangai. “E naquela nota está contida a relação Brasil-China no que diz respeito a isso e o que pode acontecer no futuro.”

Diante da insistência do repórter, que perguntou se a venda não representaria uma mudança importante na política nuclear brasileira, o presidente recomendou: “Esse assunto, você, na nota, se ler ela direitinho, vai saber qual é a posição do Brasil, o que nós esperamos disso. Portanto, qualquer dúvida, depois você conversa com o ministro, que ele poderá te dar outra vez a nota.”

O ministro confirma na nota, divulgada na manhã de ontem em Xangai, que a Comissão de Ciência e Tecnologia para a Indústria e Defesa Nacional (Costind) da China “demonstrou interesse em adquirir, do Brasil, urânio não-beneficiado, bem como em conhecer a tecnologia brasileira de enriquecimento mineral”. Campos diz ter respondido à comissão chinesa que “o Brasil não participa do comércio internacional de minério de urânio” e que “uma revisão dessa política dependeria dos resultados de estudo abrangente, de nível interministerial, que deverá ser coordenado pelo ministério nos próximos três meses”.

A nota acrescenta que, “quanto a urânio enriquecido, dada a fase incipiente do programa, o País não dispõe de capacidade para atender às próprias necessidades internas”, e não pode, portanto, exportá-lo. “A cooperação nessa área não excluiria, de qualquer modo, a possibilidade de participação de outros países interessados, que respeitem as normas internacionais supervisionadas pelas agências multilaterais com competência na matéria”, diz o texto. E conclui dizendo que uma posição do governo brasileiro sobre o tema será transmitida à Costind em agosto.

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