Porta-voz diz que provas contra Bin Laden bastam para abrir-se um processo
ISLAMABAD — O governo paquistanês deu ontem um passo importante rumo à consolidação da coalizão liderada pelos Estados Unidos, ao anunciar que as evidências materiais que lhe foram entregues pelos americanos são suficientes para levar Osama bin Laden a julgamento. “Nós analisamos o material e ele fornece base suficiente para a abertura de um processo num tribunal de justiça”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Riaz Mohammad Khan.
Segundo ele, as evidências remetem não só aos ataques do dia 11 em Nova York e Washington, mas também a incidentes anteriores. Os EUA acusam Bin Laden de envolvimento nos atentados contra as embaixadas americanas na Tanzânia e no Quênia, em 1998, e contra o navio militar USS Cole, na costa do Iêmen, em 2000.
O Estado perguntou ao porta-voz se o governo paquistanês ficou convencido do envolvimento de Bin Laden nessas ações. Ele manteve a cautela, reafirmando apenas que as evidências respaldam a abertura de processo. A embaixadora dos EUA em Islamabad, Wendy Chamberlin, entregou as provas materiais na terça-feira ao presidente paquistanês, general Pervez Musharraf.
O porta-voz acha que o material deveria ser “compartilhado internacionalmente”, mas ressalvou que o Paquistão não tomará a iniciativa de revelar o que sabe, reconhecendo que a prerrogativa é do governo americano. Quando questionado se o material confirma que os terroristas passaram pelo Paquistão antes de chegar aos EUA, Khan disse que as evidências não se referem a esse detalhe. Assim como não dão indicação sobre o envolvimento em atividades terroristas das duas organizações paquistanesas incluídas na lista dos 27 grupos e indivíduos divulgada pelo Departamento de Estado americano.
Os jornalistas perguntaram se o governo paquistanês pretende agora exortar o regime Taleban a levar em conta as evidências. “Essa é uma questão a ser discutida entre o Taleban e os EUA”, disse. “Nós não estamos conversando com o Taleban em nome de ninguém. Apenas pedimos a eles que se mostrem sensíveis (aos apelos para entregar Bin Laden), porque os afegãos são nossos vizinhos e nos preocupamos com eles.”
O anúncio de ontem levou os jornalistas a questionarem mais uma vez se o Paquistão, o único país do mundo que ainda mantém uma embaixada do Taleban ativa em sua capital, estaria disposto agora a romper relações diplomáticas com o regime. Ele lembrou que todos os diplomatas paquistaneses no Afeganistão foram chamados de volta, por razões de segurança, e argumentou que a presença do embaixador Taleban em Islamabad, Abdul Salam Zaeef, oferece um ponto de contato do grupo com o mundo.
O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, chega hoje a Islamabad, para se reunir com Musharraf. O Ministério das Relações Exteriores paquistanês não forneceu detalhes sobre o encontro. Mas Blair deve vir reforçar as garantias de benefícios políticos e econômicos em troca da posição pró-americana adotada pelo Paquistão.
Outro tema provável é a prisão, pelo Taleban, da repórter Yvonne Ridley, do tablóide britânico Sunday Express. O embaixador afegão em Islamabad disse ontem que a jornalista será julgada por entrar ilegalmente no país, crime bem menos grave do que o de espionagem, sobre o qual se especulou inicialmente.
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