Presidente lança livro em eslovaco e considera ‘curioso e triste’ que obra sobre os efeitos da internacionalização da economia continue atual
BRATISLAVA – O presidente Fernando Henrique Cardoso lançou ontem a edição eslovaca de seu livro Dependência e Desenvolvimento na América Latina, no Castelo de Bratislava, e recebeu o título de doutor honoris causa da Universidade Konstantin Filozof, “pela sua obra científica de grande importância na área da sociologia, politologia e economia” e por sua resistência ao regime militar.
O livro, lançado em seguida, com a presença do presidente da Eslováquia, Rudolf Schuster, foi escrito há 35 anos em espanhol, durante o exílio no Chile. Já havia sido traduzido para o francês e o russo, além do português, e está sendo preparada uma edição romena.
O presidente disse que acha “curioso e talvez um pouco triste” que o livro, uma crítica aos efeitos perversos do processo de internacionalização da economia, continue atual. E defendeu a democratização dos “ganhos da globalização”, com a regulação dos fluxos financeiros e o fim do protecionismo na Europa e nos Estados Unidos. Fernando Henrique e comitiva embarcaram no início da tarde de volta para Brasília.
Depois de autografar o livro, o presidente disse aos jornalistas que o Tribunal Superior Eleitoral, com a decisão de terça-feira de uniformizar as coligações partidárias nos diversos níveis da disputa eleitoral, deu início à reforma política no País:”Sempre falamos de fazer a reforma política. De repente, essa reforma começa a ser feita.”
“O Congresso votou a cláusula de barreira (das coligações conflitantes). O Tribunal deu uma certa margem (na interpretação da lei, nas eleições passadas, em que essas coligações foram permitidas). Mas (a cláusula) está lá”, analisou Fernando Henrique. “O presidente da Câmara prometeu colocar em votação a lei relativa à fidelidade partidária. Na prática, a reforma política andou. Isso, acho muito bom”, concluiu o presidente.
À pergunta sobre que conseqüências ele achava que a decisão teria para a aliança que apóia o governo, o presidente respondeu: “Ainda não avaliei praticamente os efeitos sobre cada partido. Antes disso, é preciso perguntar se é bom para o Brasil, se fortalece o sistema partidário. Pode ser que prejudique algum partido.”
Os jornalistas perguntaram se os que não tiverem candidatos competitivos a presidente podem abdicar de lançá-los para não atrapalhar as alianças nos Estados. “Não sei, porque meu partido tem candidato competitivo em todos os níveis”, desconversou o presidente.
O ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira, representante do Brasil no grupo da governança progressista, que realizou reunião de cúpula na semana passada na Suécia, considerou “patriótica” a decisão do TSE. “Os partidos são para dar conteúdo ideológico à política, não para fazer esses acordos”, disse Bresser Pereira, que pertence ao PSDB. “Eles que se virem.”
Já o deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), que também acompanhou o presidente no périplo por Suécia, Polônia e Eslováquia, acha que, com a unifomização imposta, a única coligação viável no nível nacional é entre o PFL e o PPB.
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