Primeiro-ministro tem sido acusado de sobrecarregar serviços públicos com estrangeiros
MADRI – A deportação de brasileiros no aeroporto de Madri-Barajas aumentou 20 vezes de 2006 para cá. Naquele ano, a média de deportações de brasileiros era de 20 por mês. No ano passado, foram deportados cerca de 2.800, ou 233 por mês. Em janeiro, o número saltou para 300 e em fevereiro, para mais de 400. Só ontem, foram 20. O aumento é resultado de pressões que o governo do primeiro-ministro socialista José Luis Rodríguez Zapatero vem sofrendo da oposição e da União Européia para controlar a imigração.
Ao longo da campanha para as eleições gerais de domingo, o líder da oposição, Mariano Rajoy, do direitista Partido Popular, acusou o governo de sobrecarregar os serviços sociais – saúde, educação, seguro-desemprego, refeições para os pobres – com os estrangeiros. “Como eles têm renda menor, acabam tomando o lugar dos espanhóis”, disse Rajoy no último debate, na segunda-feira. Seu mote: “Não cabemos.”
O líder direitista propõe mudanças na lei, estabelecendo a expulsão imediata de estrangeiros envolvidos em crimes, antes mesmo de seu julgamento, e a obrigação de firmar um contrato comprometendo-se a respeitar os “valores e costumes” espanhóis. A piada na Espanha é que os imigrantes terão de assistir a touradas, gostar de tortilla e dançar flamenco.
Zapatero reconheceu que é necessário controlar a imigração, mas ponderou que as contribuições previdenciárias pagas pelos estrangeiros cobrem o pagamento de aposentadorias de 1 milhão de espanhóis.
Nesta década, estabeleceram-se na Espanha cerca de 5 milhões de estrangeiros, em sua maioria vindos da América Latina. Ninguém sabe ao certo, mas calcula-se que haja 100 mil brasileiros no país, dos quais 60% “indocumentados”, conforme o jargão. Com 43 vôos semanais, a proximidade da língua e a prosperidade econômica, a Espanha se tornou uma porta de entrada de brasileiros para a Europa.
Com a economia crescendo em média mais de 4% ao ano nos últimos quatro anos, o mercado de trabalho assimilou boa parte desse fluxo. “Foi muito positivo para a economia: os imigrantes representaram maior oferta de mão-de-obra e maior demanda de serviços, produtos e residências”, disse ao Estado Gregório Izquierdo, diretor de análise econômica do Instituto de Estudos Econômicos, de Madri. “Foi um fator de dinamização da economia espanhola. O problema é que a Espanha agora está fechando vagas e já não tem tanta capacidade para absorver os fluxos migratórios.”
A partir de meados do ano passado, a economia espanhola vem sofrendo uma desaceleração, ocasionada pelo aumento dos juros pelo Banco Central Europeu e por uma crise de insolvência no mercado imobiliário, semelhante à ocorrida nos Estados Unidos. O desemprego está aumentando. Os mais atingidos são justamente os imigrantes, que se dedicam a trabalhos de mais baixa qualificação, como os da construção civil. Enquanto o desemprego entre os espanhóis é de 7,95%, entre os imigrantes atinge 12,37%.
Além disso, o governo espanhol alega que tem sido pressionado pela União Européia a exercer maior controle. Na Delegacia de Imigração do Aeroporto de Barajas, funcionários de outros países europeus acompanham os trabalhos dos espanhóis. Pelos Acordos de Schengen, firmados a partir de 1985, não há controle de circulação de pessoas entre as fronteiras da UE e de alguns países vizinhos, como a Suíça. Assim, o controle só é exercido no desembarque de quem vem de fora do chamado Espaço Schengen. Passageiros vindos de países de dentro desse espaço, como é o caso dos que fazem conexão, não passam mais por nenhum controle.
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