Espanha é a segunda maior investidora do mercado brasileiro e a sexta em todo o mundo
MADRI – O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, veio descansar na Espanha durante o Carnaval. Mesmo assim, foi ter com o seu colega espanhol. Amorim, de ascendência espanhola, pediu a Miguel Ángel Moratinos que a Espanha contivesse a repatriação de brasileiros que chegam ao Aeroporto de Madri-Barajas e que abrisse o seu mercado às empresas do Brasil na disputa de contratos públicos, para que esses dois problemas deixassem de ser um “irritante” nas relações dos dois países.
O primeiro pedido, como se sabe, foi ignorado. A imigração foi um dos temas centrais da campanha eleitoral e o governo socialista é acossado pela oposição de direita por ser excessivamente complacente com os estrangeiros, segundo a sua visão, sobrecarregando os serviços sociais com os imigrantes, de baixa renda, em vez de dar conforto aos espanhóis. E quem vota nessas eleições são os espanhóis, não os brasileiros.
O segundo pleito é de mais longo prazo. A Espanha protege suas empresas nas licitações, incluindo nos editais exigências como “conhecimento do mercado local”, e não é só o Brasil que se queixa disso. Vizinhos como França e Itália também saem prejudicados.
Mesmo assim, grandes empresas brasileiras começam a entrar no mercado espanhol. A siderúrgica Gerdau, junto com o Banco Santander, comprou por US$ 430 milhões (cada um deu metade) a Sidemor, no País Basco, que fabrica lâminas de aços especiais para a indústria automobilística européia. A Santista Têxtil, do Grupo Camargo Corrêa, obteve o controle acionário Tazex Algodonera, também no País Basco.
Alguns dos setores em que os brasileiros são mais competitivos, como siderúrgico, têxtil, papel e celulose, cimento e petróleo (a Petrobrás estudou comprar a Cepsa, segunda empresa do setor na Espanha) são justamente aqueles em que os espanhóis estão obsoletos.
Nada, no entanto, que se compare à onipresença da Espanha no Brasil, que abriga 283 empresas espanholas, dos mais diversos setores, muitas delas familiares, de pequeno e médio porte. Sexto maior investidor mundial, a Espanha é o segundo no Brasil, perdendo apenas para os Estados Unidos.
O Brasil também é o segundo destino de investimentos espanhóis no exterior (10,9%), atrás apenas da Grã-Bretanha (17,4%). Até 2006, o Banco Central do Brasil computou um estoque de US$ 29,6 bilhões de investimentos espanhóis, já contabilizadas as vendas de empresas espanholas.
O número de 2007 ainda não está consolidado, mas, com a compra da Italia Telecom (controladora da TIM no Brasil) pela Telefônica e do Real ABN Amro pelo Santander, mais os leilões de rodovias e de linhas de transmissão vencidos por empresas espanholas, e ainda a construção de complexos hoteleiros e residenciais no Nordeste, esse estoque chegou facilmente aos US$ 31 bilhões.
No comércio, a relação se inverte. Em 2007, o Brasil exportou US$ 4,48 bilhões para Espanha (49,2% a mais que em 2006), em soja, milho, fumo, estanho, lâminas de aço e carne congelada. E importou menos da metade, US$ 1,84 bilhão (28,7% mais que no ano anterior), em peças para aviões e para automóveis, produtos químicos e azeite.
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