Socialista Zapatero vence líder da direita e conquista novo mandato

Primeiro-ministro ganha por margem ligeiramente menor que em 2004; PSOE e PP ampliam bancada

MADRI – Sob o impacto da desaceleração econômica dos últimos oito meses e do atentado terrorista de sexta-feira, os espanhóis reelegeram ontem o primeiro-ministro José Luis Rodríguez Zapatero com uma margem ligeiramente menor que a obtida há quatro anos. O Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), de Zapatero, obteve 43,65% dos votos, contra 40,12% para o Partido Popular, liderado por Mariano Rajoy. Há uma semana, as pesquisas indicavam vitória de Zapatero por cerca de 5 pontos.

Tanto o PSOE quanto o PP ampliaram suas cadeiras no Congresso – de 164 para 169 e de 148 para 153, respectivamente. Em 2004, Zapatero venceu Rajoy por 42,59% a 37,71%. Os grandes derrotados ontem foram a Esquerda Unida, situada à esquerda do PSOE – cujo número de deputados diminuiu de 5 para 2 -, e os partidos regionais separatistas. Com isso, reforçaram-se duas tendências: o voto útil da esquerda no PSOE, para conter uma ascensão do PP, e a consolidação do bipartidarismo na Espanha.

Zapatero subiu ao palanque montado na frente do seu comitê de campanha às 22h50 locais (18h50 em Brasília), depois de receber um telefonema de felicitações de Rajoy. “Isaías (Carrasco) deveria estar hoje vivendo este momento junto à sua família”, disse o primeiro-ministro, referindo-se ao ex-vereador socialista assassinado na sexta-feira pelo grupo separatista Pátria Basca e Liberdade (ETA). “Governarei para todos, mas pensando antes de tudo nos que não têm tudo”, prometeu Zapatero, lendo um discurso de apenas 9 minutos diante de uma entusiasmada multidão de militantes socialistas, que agitavam bandeiras vermelhas.

Depois de Zapatero, foi a vez de Rajoy aparecer no palanque de seu comitê para festejar: “Conseguimos mais votos do que nunca. Somos o partido que mais subiu em porcentagem de votos e em cadeiras em toda a Espanha.” Bem-humorado, Rajoy, cuja liderança estava ameaçada em caso de mau desempenho do PP, saltou várias vezes no palanque, perguntando: “Isso pode cair, hein?”

O PP saltou de 9,76 milhões de votos, em 2004, para 10,16 milhões. Já o PSOE subiu de 11,03 milhões para 11,06 milhões. Para garantir apoio no Congresso de 350 deputados, os socialistas devem aliar-se ao partido catalão Convergência e União (CiU), que se consolidou como a terceira força política do país, passando de 10 para 11 cadeiras. O líder da CiU, Josep Duran i Lleida, mostrou-se aberto à negociação com o governo, declarando, em catalão (com legendas em espanhol na TV), que sua bancada não apoiaria o partido derrotado. De sua parte, Josu Erkoreka, líder do Partido Nacional Basco, cuja bancada caiu de sete para seis cadeiras, anunciou que continuará apoiando o governo socialista.

Além dos deputados do Congresso, houve eleição também para o Senado, que exerce papel quase figurativo. A bancada do PP diminuiu de 102 para 101 senadores e a do PSOE aumentou de 81 para 89.

O comparecimento foi de 75,32%,praticamente o mesmo de 2004 (75,66%).

“Para a Esquerda Unida, é um fracasso político, e assumo toda a responsabilidade”, lamentou Gaspar Llamazares, líder da aliança. Ele reclamou do “sistema eleitoral injusto e bipartidarista”, que reduziu os 3,8% de votos obtidos pela aliança a menos de 1% das cadeiras no Congresso. E anunciou que não encabeçará a lista da Esquerda Unida nas próximas eleições. Em contrapartida, o novo partido de esquerda União, Progresso e Democracia (UPyD), liderado pela ex-socialista Rosa Díez, obteve uma cadeira no Congresso.

As legendas regionais de perfil separatista também perderam representação no Parlamento, atingindo sua menor votação desde o estabelecimento da democracia na Espanha, há três décadas. Somados, esses partidos elegeram 24 deputados, 9 a menos do que em 2004. Entre os principais derrotados estão a Esquerda Republicana da Catalunha (Esquerra), cuja bancada caiu de 8 para 3 deputados; a Junta Aragonista (CHA) e o Solidariedade Basca (EA), que tinham uma cadeira cada, e a perderam

Os principais jornais do país dedicaram manchete ontem a um apelo da filha de Carrasco. “Assassinaram meu pai por defender a liberdade, a democracia e as idéias socialistas”, declarou Sandra Carrasco, de 20 anos, ao lado de líderes do PSOE. “Os que queiram solidarizar-se com meu pai e com nossa dor, que compareçam maciçamente para votar, para dizer aos assassinos que não vamos dar um só passo atrás.”

Depois de um crescimento médio de 4% nos últimos quatro anos e de 3% na última década, a Espanha enfrenta desaceleração econômica desde meados do ano passado. Graças ao bom desempenho do primeiro semestre (4,1% de crescimento anualizado), 2007 fechou com 3,5%. Mas, para este ano, o crescimento deve ficar entre 2,0% e 2,6%, segundo estimativas. O desemprego aumentou um ponto porcentual, para 8,6%, e a inflação subiu de 2,4% para 4,3%.

Zapatero garante que pode enfrentar a crise com os recursos orçamentários acumulados pelo superávit fiscal, de 2,23% do PIB em 2007. Ele promete aumentar o salário mínimo em 30%, para 812 euros, ampliar os “cheques-aluguel” e “cheques-bebê”, que repassam até 3.500 euros por criança nascida, e gerar 2 milhões de empregos.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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