Ele foi o mais convincente para 53% dos telespectadores, revela sondagem divulgada pelo ‘Figaro’
PARIS – O autocontrole do candidato de direita à presidência francesa, Nicolas Sarkozy, no debate de quarta-feira à noite parece ter sido mais proveitoso que a virulência de sua adversária socialista, Ségolène Royal. De acordo com pesquisa realizada pelo instituto Opinion Way para o jornal Le Figaro, 53% dos telespectadores consideraram Sarkozy “mais convincente”, ao passo que apenas 31% acharam isso de Ségolène. Mais de 20 milhões de pessoas assistiram ao duelo, transmitido por duas das mais importantes emissoras de TV.
Na mesma amostra, de 1.400 entrevistados, 54% disseram que votarão em Sarkozy, e 46%, em Ségolène. Portanto, uma parte dos eleitores da candidata socialista reprovou sua atuação no debate, o primeiro em 12 anos na França.
O curioso é que nem Sarkozy nem Ségolène se comportaram como de hábito. Geralmente agitado, sem meias-palavras e politicamente incorreto, o candidato do governo se mostrou calmo e razoável ao longo das 2 horas e 40 minutos de debate ininterrupto, mantendo o controle nas inúmeras vezes em que foi interrompido pela adversária, e até mesmo quando ela o acusou de “imoralidade política”.
“Sarkozy e Royal trocaram de papéis no debate”, disse ao Estado Henri Rey, diretor de Pesquisas do Fundo Nacional de Ciências Políticas. “Sarkozy estava completamente contido, evitando a todo custo um passo em falso. Royal usou de agressividade para tentar tirá-lo do sério e expor suas tendências autoritárias. Mas não conseguiu.”
“Fiquei um pouco perplexo com uma certa agressividade de madame Royal, mas, enfim, foi talvez de propósito, talvez uma estratégia de sua parte”, estimou ontem Sarkozy. “Não acredito de forma nenhuma que num debate na mídia esteja tudo em jogo. É bastante ofensivo para os franceses pensar isso. Na história da 5ª República (desde 1958), um debate jamais foi decisivo”. acrescentou.
“Monsieur Sarkozy assumiu uma postura de vítima depois de ter dado os golpes mais rudes”, protestou ontem Ségolène. “Isso lembra as crianças que chutam o vizinho e dizem que foi o outro.”
Passadas duas horas de debate, Ségolène se insurgiu contra o adversário quando ele defendeu a absorção de alunos deficientes mentais nas escolas regulares. “Estou escandalizada com o que acabo de ouvir, é uma imoralidade política”, reagiu a candidata socialista. Ela acusou o atual governo, do qual Sarkozy participou como ministro do Interior e da Economia, de ter “suprimido” um programa de integração dos deficientes às escolas regulares. O programa fora implantado por ela, quando ministra da Família, da Infância e das Pessoas Deficientes, entre 2001 e 2002, no governo do primeiro-ministro socialista Lionel Jospin.
Numa nota, o ministro da Saúde, Philippe Bas, acusou ontem Ségolène de “lançar inverdades”, afirmando que 160 mil crianças deficientes freqüentaram as escolas em 2006, ante 90 mil em 2002.
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