Pesquisas apontam favoritismo de partido do presidente eleito na votação para a Assembléia Nacional, em junho
PARIS – A eleição da nova Assembléia Nacional, nos dias 10 e 17 de junho, deve preservar a maioria absoluta do governo do novo presidente francês, Nicolas Sarkozy. É o que indicam duas pesquisas de opinião, que prevêem a vitória da União por um Movimento Popular (UMP), de Sarkozy, por cerca de um terço dos votos no primeiro turno.
Pelo sistema distrital francês, essa proporção é suficiente para se conquistar mais da metade dos votos no segundo turno, graças a uma cláusula de barreira para os candidatos com menos de 12,5%.
Segundo pesquisa do instituto CSA, a UMP deverá ter 35% dos votos no primeiro turno; o Partido Socialista, 30%; a União pela Democracia Francesa (do candidato centrista François Bayrou, terceiro colocado no primeiro turno da eleição presidencial), 15%; e a Frente Nacional, do ultradireitista Jean-Marie Le Pen, 8%. Já de acordo com o Ifop, a UMP terá 34%; o PS, 29%; a UDF, 12%; e a FN, 7%.
‘Essa votação é suficiente para a UMP garantir a maioria absoluta’, assegurou ao Estado o especialista em eleições Bruno Cautrès, pesquisador da Faculdade de Ciências Políticas (Sciences Po). ‘É um sistema injusto, criado na 5ª República (pela Constituição de 1958) para garantir a estabilidade.’
Sarkozy falou, durante a campanha eleitoral, em aumentar a representação proporcional na Assembléia. ‘A introdução de uma pequena dose de proporcionalidade não mudará o sistema’, descartou, no entanto, Cautrès.
O primeiro-ministro a ser indicado por Sarkozy, depois de sua posse, no dia 15, provavelmente o senador François Fillon, assim como o gabinete de 15 ministros, ficarão com status de interinos, até a eleição dos novos deputados. ‘Não haverá problema para confirmá-los’, prevê Cautrès. ‘Haverá uma maioria para apoiar o governo.’
Depois da vitória de domingo, dirigentes da UMP se reuniram ontem de manhã no comitê de Sarkozy para discutir sua estratégia para as eleições de junho.
Eles dizem que vão tentar atrair candidatos de centro e até de esquerda. O esforço se tornou mais necessário depois que Bayrou anunciou que a UDF disputará distritos com candidatos da UMP.
Tradicionalmente, os dois partidos se aliavam nos distritos. Entretanto, dos 29 deputados da UDF, 22 apoiaram Sarkozy, justamente com o objetivo de evitar o enfrentamento nas eleições parlamentares, e isolando Bayrou no próprio partido.
Le Pen também pretende disputar para valer as cadeiras distritais. ‘É necessário que tenhamos deputados, porque sem isso os franceses não terão nenhuma garantia de que monsieur Sarkozy e seus amigos não farão uma política pior que a que eles fizeram nos últimos anos, que nos conduziu ao desastre’, disse ontem o líder da Frente Nacional. A mágoa de Le Pen tem motivo: com as propostas de restringir a imigração e de ser implacável com a criminalidade, o ex-ministro do Interior do atual governo ‘roubou’ 1 milhão de votos de Le Pen.
O presidente Jacques Chirac e o primeiro-ministro Dominique de Villepin usufruíram de maioria folgada nos últimos cinco anos: a UMP tem 359 das 577 cadeiras da Assembléia Nacional e a sua aliada UDF, outras 29. Os socialistas são a segunda força do Parlamento, com 149 votos. Há ainda 21 comunistas e republicanos (que são aliados), 14 independentes e 5 cadeiras vagas.
Além da Assembléia Nacional, há também o Senado, eleito indiretamente pelos prefeitos, vereadores e deputados. Ele é tradicionalmente dominado pela direita. E seu papel é mais o de zelar pelos chamados ‘interesses territoriais’, enquanto o poder de legislar recai mais sobre a Assembléia.
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