Presidente eleito deve ainda procurar sindicatos para debater reformas trabalhistas e mudanças na lei de greve
PARIS – A um mês das eleições para a Assembléia Nacional, que determinarão as condições de governabilidade de seu mandato, a equipe do direitista Nicolas Sarkozy, presidente eleito da França, estendeu a mão para o centro e a esquerda, buscando ampliar suas alianças. O diretor da campanha de Sarkozy, Claude Guéant, que deverá ser nomeado secretário de Estado (equivalente a ministro-chefe da Casa Civil), confirmou ontem que o presidente eleito deseja ter ministros de esquerda e negociar as reformas trabalhistas com sindicatos.
Guéant não falou em nomes, mas entre os mais lembrados estão o ex-deputado socialista Éric Besson, que publicou este ano um livro crítico à candidata do partido, Ségolène Royal, intitulado “Quem conhece madame Royal?”, e apoiou Sarkozy na campanha. Outro que pode ser convidado é o ex-ministro da Saúde Bernard Kouchner, fundador da organização Médicos sem Fronteiras, que foi pré-candidato socialista no ano passado e chegou a defender um “governo de união nacional” com a direita.
Os líderes das centrais sindicais se declararam dispostos a negociar com o futuro governo – obrigado, por uma lei aprovada em janeiro, a ouvir os atores sociais antes de promover reformas trabalhistas. O secretário-geral da Confederação Geral do Trabalho, Bernard Thibault, disse que “ninguém pode negar a legitimidade” de Sarkozy, que na campanha atacou direitos adquiridos defendidos pelos sindicatos, como a jornada de 35 horas semanais, e prometeu mudar a lei de greve para obrigar os trabalhadores dos transportes a garantir o serviço nos horários de pico. “Sarkozy não tem nenhuma intenção de impor nada”, assegurou ontem Guéant.
Eleito no domingo com 53% dos votos válidos, ante 47% para a candidata socialista Ségolène Royal, Sarkozy se recolheu, na segunda-feira, na ilha de Malta, onde tem feito passeios de iate, enquanto reflete sobre a formação do novo governo. O presidente eleito e o primeiro-ministro que ele nomeará, provavelmente o senador François Fillon, tomarão posse no dia 16.
Sarkozy não participou ontem da tradicional cerimônia para lembrar a vitória aliada sobre os nazistas na 2.ª Guerra Mundial, conduzida, pela última vez, pelo presidente Jacques Chirac, no cargo há 12 anos. O ex-ministro do Interior alegou que queria evitar a sensação de uma “presidência de duas cabeças”. Embora Chirac tenha participado da cerimônia em 1995, como presidente eleito, ao lado do então presidente socialista François Mitterrand.
Sarkozy deve nomear 15 ministros (dos quais, 7 mulheres) para governar até as eleições dos dias 10 e 17 de junho. Só depois é que ele deverá escolher outros 20 secretários nacionais, com base nos resultados eleitorais.
Um dos efeitos da campanha presidencial é a possível dissolução da União pela Democracia Francesa (UDF), do candidato centrista François Bayrou, terceiro colocado no primeiro turno, com 18,57% dos votos. Bayrou, que foi ministro da Educação no governo do presidente Jacques Chirac e do primeiro-ministro Alain Juppé, entre 1995 e 1997, não apoiou Sarkozy no segundo turno, ao contrário da maioria dos deputados da UDF.
O ministro da Educação, Gilles de Robien, integrante da UDF, disse ontem que os “23 ou 24” deputados do partido que apóiam Sarkozy devem formar uma nova agremiação para participar do próximo governo. Bayrou, de sua parte, lança amanhã um novo partido, chamado Movimento Democrático.
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