Eleitores de Veltroni culpam Berlusconi pelos problemas do país
ROMA – Entre os romanos que enfrentaram a garoa para ouvir Walter Veltroni ontem na Praça do Povo estava Teo Loretelli, de 75 anos. “Voto em Veltroni porque sou trabalhador”, resumiu Loretelli, que se aposentou como funcionário do Ministério de Bens Culturais. “Não gosto do outro lado. Alguém que se chama Mussolini não pode ser boa coisa”, disse ele, referindo-se a Alessandra Mussolini, neta do ex-ditador fascista Benito Mussolini. Seu partido, Ação Social, integra a aliança de centro-direita O Povo da Liberdade, de Silvio Berlusconi.
“Além disso, tem o partido do (Umberto) Bossi, que quer dividir a Itália”, acrescentou Loretelli, numa referência à Liga do Norte. “Veltroni é como eu”, definiu Claudio Blasi, um consultor previdenciário de 32 anos. “Eu me identifico com todas as coisas que ele diz. É uma pessoa muito humana, e foi bom prefeito.” Eleito pela primeira vez em 2001, Veltroni obteve um segundo mandato em 2006, com 62% dos votos.
“Finalmente, com Veltroni, podemos dar uma virada na política, segundo os critérios lógicos, meritrocráticos, de justiça”, enumerou Francesca Mirti, de 28 anos, que tem uma pequena empresa de marketing chamada Per Bacco. “Veltroni encarna a nova política – limpa, justa, que efetivamente pode dar uma mudança válida à Itália.”
“Veltroni é a figura capaz de governar o país, que se encontra em dificuldades muito grandes, que não vêm do governo (de Romano) Prodi, mas do anterior (de Berlusconi)”, assinalou Domenica, de 59 anos, que trabalha numa empresa de limpeza, e não quis dar o seu sobrenome.
No início de seu governo, Prodi, que pertence à aliança de centro-direita agora liderada por Veltroni, introduziu a chamada Lei Financeira, com a finalidade de aumentar a arrecadação combatendo a evasão fiscal, para tentar reduzir a dívida pública italiana, que atinge 105% do PIB. A lei se tornou bastante impopular, porque os italianos a identificaram com aumento de impostos.
“Prodi não aumentou os impostos”, defendeu Domenica. “Ele estava tentando fazer com que o nosso país saísse de uma crise criada pelo outro governo, mas não teve tempo de arrumar a casa.” Depois de 20 meses de governo, Prodi perdeu a estreita maioria de três cadeiras no Senado. “Se não pagarmos impostos, como é que vamos fazer?”
Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.