Berlusconi adotará medidas impopulares

Primeiro-ministro eleito diz que fará reformas, “começando pelos privilégios dos gastos públicos”

ROMA – O primeiro-ministro eleito da Itália, Silvio Berlusconi, advertiu ontem que terá de adotar “medidas impopulares” para recuperar a Itália do seu pesado endividamento, alto custo de vida e forte estagnação econômica. “Haverá momentos difíceis”, disse Berlusconi, ao sair de reunião com seus aliados, vitoriosos nas eleições de domingo e de segunda-feira. “Será necessária uma forte renovação para fazer as reformas necessárias, que terão até conteúdos de impopularidade, começando pelos privilégios dos gastos públicos.”

A economia italiana foi a que menos cresceu na Europa no ano passado: 1,5%. O déficit público vem baixando – foi de 2,2% no ano passado -, mas a dívida ainda é muito alta: 104,8% do PIB, assim como a inflação de 3,3%, que esconde um aumento muito mais acelerado dos preços dos alimentos e matérias-primas.

Na saída da reunião com o líder da Liga do Norte, Umberto Bossi, cuja votação, de 9%, foi a equivalente à vantagem da aliança de centro-direita sobre a de centro-esquerda, Berlusconi garantiu que não haverá favorecimento da região que ele representa em detrimento das outras. “Com Umberto Bossi, haverá identidade de visões sobre todas as providências administrativas”, disse ele. “Não haverá nenhuma região a ser punida, mas um federalismo solidário.”

Berlusconi não descartou convidar um representante da aliança adversária de centro-esquerda para participar do seu governo, como fez o presidente francês, Nicolas Sarkozy, ao indicar o socialista Bernard Kouchner para o Ministério das Relações Exteriores. Ele lembrou que, em 2002, quando era primeiro-ministro, indicou Giuliano Amato, atual ministro do Interior no governo de centro-esquerda, para ocupar a vice-presidência da Conferência Européia, encarregada da nova arquitetura institucional da União Européia (UE).

Berlusconi voltou a declarar que a UE precisa ganhar mais peso no cenário mundial. Classificado de “atlantista”, pela prioridade conferida às relações com os Estados Unidos no seu governo anterior (2001-2006), Berlusconi já havia dito, na entrevista coletiva de terça-feira, que a Europa devia se tornar “mais presente no mundo”. Ele voltou a propor também a ampliação das funções do Banco Central Europeu, para além do controle da inflação. Assim como Sarkozy, Berlusconi acha que o BCE deveria conter a valorização do euro frente ao dólar, que dificulta as exportações.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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