Com declínio econômico, italiano quer salário maior e menos impostos

Essas são, segundo pesquisas, algumas das prioridades da população

ROMA – Grande parte da desilusão dos eleitores italianos está associada à perturbadora sensação do declínio experimentado pela Itália nas duas últimas décadas. Depois de se equiparar à Grã-Bretanha em renda per capita em 1987, a Itália veio caindo de posição até ser ultrapassada recentemente pela Espanha. Os versados em história vêem uma analogia com a República de Veneza, que depois de 500 anos de apogeu, decaiu lentamente a partir do século 16, até ser ocupada por Napoleão Bonaparte, em 1797.

Entre os anos 50 e 90, a economia italiana prosperou, e seu peso no cenário da guerra fria foi valorizado pela aliança com os Estados Unidos, da qual era um “semiprotetorado”, recorda Lucio Caracciolo, editor da revista de geopolítica Limes. A década de 90 selou o fim do apogeu italiano, com dois eventos. O primeiro foi o fim da guerra fria. O segundo, a adesão ao euro, que entrou nas contas fiscais em 1999, antes de ser introduzido como moeda física, em 2002.

Até então, a Itália, um pouco como o Brasil antes do real, fechava suas contas por meio da emissão da lira, que acumulou uma quantidade folclórica de zeros. Preocupados com o risco de a instabilidade econômica da Itália respingar sobre suas economias, os aliados europeus fizeram vista grossa ao descumprimento, pela Itália, das condições do Tratado de Maastricht para a adesão ao euro: dívida pública de até 60% do PIB e déficit público máximo de 3%.

Num livro publicado há 30 anos, intitulado Entrevista sobre o Capitalismo, o empresário Guido Carli, morto em 1993, dizia que, se a Itália não tivesse sido uma das co-fundadoras da Comunidade Européia, em 1957, estaria reduzida a um nível de desenvolvimento africano. Advertia, porém: “Mas foi um grave erro pensar que podíamos estar na Europa sem mudar nossos comportamentos, seja na economia ou na política.” A advertência de Carli continua atual.

Nos últimos anos, a Itália tem mantido o déficit público abaixo dos 3%. O governo de centro-esquerda de Romano Prodi encerrou o ano passado com com uma cifra de 2,2%. Com isso, a dívida pública tem caído lentamente – no governo Prodi, ela diminuiu de 106,8%, em 2006, para 104,8%, em 2007. Em termos absolutos, no entanto, Prodi não diminuiu os gastos públicos, afirma Luca Paolazzi, economista-chefe da Confindustria. Eles caíram em relação ao PIB, graças a um aumento da arrecadação.

A Itália é o país que menos cresce na União Européia. No ano passado, seu PIB aumentou 1,5%. O desemprego não é alto: 6,2%. Mas 11% dos italianos vivem abaixo da linha de pobreza. Sua infra-estrutura, considerada uma das melhores da Europa nos anos 70, está obsoleta, sobretudo no que se refere a estradas e ferrovias. Segundo relatório de janeiro de 2007 do Consórcio Nacional Inter-Universitário para os Transportes e a Logística (Nitel), os investimentos da Itália em infra-estrutura representam 13% da União Européia; os da Alemanha, 30% e os da França, 20%.

A carga tributária, de 43,3%, é considerada alta, para os serviços oferecidos pelo Estado. Ela “sobrecarrega os empresários honestos”, diz Paolazzi, já que a sonegação atinge 20%. E seria de 50%, se não fosse essa evasão. Outros entraves para o crescimento e a competitividade são: o mau funcionamento das instituições (burocracia, Justiça lenta, etc.), o crime organizado e a má qualidade do ensino.

De acordo com as pesquisas, as prioridades para os italianos são, nessa ordem: o aumento dos salários e das aposentadorias, que não têm acompanhado a alta do custo de vida; o combate à criminalidade; a redução da inflação (3,3% em 2007); a diminuição da carga tributária; e o controle da imigração (há 3,7 milhões de imigrantes).

Mas, na maioria desses temas, as diferenças entre O Povo da Liberdade e o Partido Democrático descem a detalhes técnicos. Tanto Silvio Berlusconi quanto Veltroni prometem, essencialmente, cortes de impostos, aumento das ajudas de custo e das aposentadorias, mais gastos sociais e investimentos em infra-estrutura.

Publicado em O Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

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