Mas Lula evita envolver-se pessolamente na disputa eleitoral na Itália
ROMA – A aliança de centro-esquerda liderada pelo ex-prefeito de Roma Walter Veltroni, que disputa as eleições gerais na Itália no domingo e na segunda-feira, contou com apoio importante do PT e do PPS durante a campanha no Brasil, onde há 200 mil eleitores italianos. Foi o que disse ontem ao Estado Luciano Vecchi, o diretor de Relações Internacionais do Partido Democrático da Esquerda (PDS), que encabeça a coalizão.
“O PD (Partido Democrático, nome da aliança) pôde fazer uma campanha intensa no exterior graças ao apoio dos partidos nacionais”, disse Vecchi. “Em particular, no Brasil, o Partido dos Trabalhadores, de Lula, e o PPS mobilizaram uma grandíssima campanha a favor do voto no PD.”
Veltroni recebeu nos últimos dias uma série de mensagens de apoio de governantes de centro-esquerda, como os primeiros-ministros Gordon Brown, da Inglaterra, e José Luis Rodríguez Zapatero, da Espanha, além do presidente da África do Sul, Thabo Mbeki.
À pergunta sobre se não havia chegado uma mensagem do presidente Lula, Vecchi respondeu: “É evidente que alguns presidentes preferem não se envolver, por sua função constitucional, mas o apoio é por meio da estrutura dos partidos, e confiamos que o resultado das urnas será testemunha de nossa colaboração.”
Lula tinha programada uma visita à Itália na terça-feira. Foi cancelada depois que o governo do primeiro-ministro Romano Prodi, também do PDS, caiu no início de fevereiro, por ter perdido sua estreita maioria de três cadeiras no Senado. Em seus 20 meses de governo, Prodi promoveu uma aproximação com o Brasil em particular e a América Latina em geral, em contraste com o seu antecessor, Silvio Berlusconi, que prioriza as relações com os Estados Unidos e com a Europa. Líder de centro-direita, Berlusconi é favorito nas eleições de domingo e segunda-feira, segundo as pesquisas, com cinco a nove pontos de vantagem sobre Veltroni.
“Se vencermos, a América Latina continuará sendo uma das prioridades da nossa política externa”, garantiu ao Estado o eurodeputado Lapo Pistelli, encarregado de política externa da coalizão de centro-esquerda. “Manteremos nossa presença nos países em que temos direta responsabilidade ou interesse, por motivos de emigração ou geopolíticos.” Pistelli criticou Berlusconi: “Durante cinco anos, o líder do PDL (Partido da Liberdade) não botou o pé na América Latina, onde vivem 30 milhões de italianos. Ao contrário, nos últimos dois anos, se reconstruíram pontes, com acordos importantes. As manifestações de apoio que chegam dos países da América Latina são um reconhecimento dessa mudança.”
Em março de 2006, logo depois de eleito, Prodi visitou o Brasil acompanhado de cerca de 200 empresários italianos, liderados por Luca di Montezemolo, presidente da Confederação das Indústrias da Itália e principal executivo da Fiat e da Ferrari. A visita foi seguida, no ano passado, de uma missão empresarial brasileira na Itália, organizada pelas federações das indústrias de São Paulo e de Minas Gerais. Depois foi a vez de a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, visitar Roma, onde falou a cerca de 80 empresários italianos sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Em termos relativos, o intercâmbio comercial aumentou bastante entre 2005 e 2007, embora o volume ainda seja modesto. As exportações brasileiras para a Itália cresceram de US$ 3,2 bilhões para US$ 4,5 bilhões – ou 40%. Já as importações aumentaram de € 1,6 bilhão (o dado foi divulgado em euros) para € 2,6 bilhões – 62%.
“Estávamos vivendo no governo Prodi variações importantes na política externa em relação ao Brasil, com uma tentativa de retomar as relações econômicas”, diz o embaixador brasileiro em Roma, Adhemar Bahadian. “Com a queda de Prodi, há um compasso de espera, para ver que tipo de governo surgirá e que direção se dará às relações. Na minha opinião, a massa crítica criada nos últimos dois anos serviu para mostrar que o abandono dos investimentos no Brasil foi um erro para a Itália, que perdeu posição sobretudo para a Espanha.”
O embaixador citou o interesse da empresa italiana Italplan na construção do trem-bala ligando São Paulo ao Rio, e uma possível cooperação trilateral entre Brasil, Itália e um país africano para a produção de etanol ou de biodiesel. Os países da União Européia, incluindo a Itália, têm até 2020 para consumir pelo menos 10% de energia de fontes renováveis.
Na avaliação de Bahadian, a aproximação “não depende mais de governo, porque os italianos se deram conta de que a associação com o capitalismo brasileiro é uma das saídas possíveis à estagnação econômica na Itália”. O embaixador arrematou: “Não acredito que a entrada de outro governo suspenda esse processo.” Segundo ele, Lula considera vir ainda este ano à Itália, qualquer que seja o governo eleito.
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