Dentro da aliança liderada por Berlusconi, a separatista Liga do Norte obtém o dobro de votos em relação a 2006
ROMA – Os resultados das eleições de ontem indicam uma tendência ao bipartidarismo na Itália – embora, a rigor, não se trate de dois partidos, mas de duas alianças, uma de centro-direita e outra de centro-esquerda. No interior das duas alianças, dois outros dados relevantes. A Liga do Norte, o movimento separatista liderado pelo controvertido Umberto Bossi, duplicou seus votos de 2006, e terá um papel proeminente no governo de Silvio Berlusconi. O mesmo ocorre na aliança de centro-esquerda com o partido Itália dos Valores, do ex-juiz antimáfia Antonio Di Pietro.
“Essas eleições semi-reformaram o sistema político”, analisa Claudio Tito, colunista político do jornal La Repubblica, referindo-se à ingovernabilidade crônica da Itália. “Desenhou-se um bipartidarismo”, constata Vittorio Feltri, diretor do jornal Libero. “Provavelmente, os eleitores entenderam que ou se vota daqui ou dali.” Berlusconi foi o único a cumprir um mandato completo de cinco anos nas últimas décadas, entre 2001 e 2006.
A Liga do Norte e seu aliado Movimento pela Autonomia passaram de 26 cadeiras na Câmara para entre 64 e 72, segundo projeções do Ipsos; e de 13 senadores para 23 a 41 (dependendo de se o MPA terá bancada ou não). De 4,6% dos votos na Câmara em 2006, os dois grupos dobraram para 9,2%.
Os especialistas observam que, para obter uma votação expressiva em termos nacionais, a Liga do Norte precisa concentrar um forte apoio em seus redutos regionais – o que sugere um forte apelo do separatismo (ou “federalismo”, conforme a Liga) no Norte da Itália. Poucos dias antes das eleições, Bossi, inflamado por uma complexa cédula eleitoral que supostamente prejudicava seu grupo, exortou seus seguidores a “pegar em fuzis contra a canalha centralista romana”.
A imprensa perguntou então a Berlusconi se Bossi seria ministro em seu governo, e o líder da centro-direita saiu pela tangente: “Ele está doente.” Convalescente de uma forte gripe, Bossi, que foi ministro da Reforma Institucional de Berlusconi entre 2001 e 2004, assegurou ontem que a relação entre ambos vai “muito bem”. À pergunta sobre o que pensava do fortalecimento do bipartidarismo, Bossi, cujo grupo promove rituais de “juramento de fidelidade” ao estilo medieval, respondeu: “Mas é a Liga que dá o seu sangue, que tem a vontade de mudar o país. A Liga deu a Berlusconi muitos votos populares.”
A Itália dos Valores também duplicou sua votação para a Câmara, de 2,30%, em 2006, para 4,5%. Antes com 16 deputados, deve ficar agora com 26 a 30, segundo as projeções do Ipsos. No Senado, a bancada do partido do ex-juiz teve um aumento ainda mais expressivo, passando de 4 para 12 a 16 cadeiras.
Di Pietro ganhou fama ao participar do grupo de magistrados da operação Mãos Limpas (os juízes podem ter função investigativa na Itália). Disputou sua primeira eleição em 1996, quando se elegeu senador pela Toscana, no partido A Oliveira, precursor do Partido Democrático, de centro-esquerda. No governo do ex-primeiro-ministro Romano Prodi, do PD, ocupava o Ministério da Infra-Estrutura.
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