Uma visita ontem à seção eleitoral da Universidade Estatal de Moscou Lomonossov, onde 2.500 pessoas estavam inscritas para votar, dava a impressão de que o eleito seria o candidato ultranacionalista Vladimir Zhirinovsky
MOSCOU – A razão, no entanto, não são as idéias peculiares de Zhirinovsky, que dissimula mal seus sentimentos hostis contra os trabalhadores imigrantes das ex-repúblicas soviéticas, nem o estilo abrasivo do candidato, que chama seus oponentes de “idiota” e já protagonizou episódios bizarros, jogando um copo de água num adversário e expulsando outro do estúdio. É uma forma de escandalizar; um voto de protesto, numa eleição considerada injusta.
“Gosto de Zhirinovsky pelo humor dele”, disse uma consultora em gestão pública, que não quis identificar-se porque trabalha para o governo. “Sei que nada vai mudar. De qualquer jeito, não há opção. É evidente que vai ganhar o Medvedev. No nosso país, tudo é muito previsível.”
O geólogo Mikhail Malakhov reconhece que “o comportamento de Zhirinovsky deixa a desejar”, e não acha que um governo dele seria melhor. “Tudo vai continuar como está. Já estamos num rumo, não temos como sair.” Ele admite que o país está estável, mas diz que “muita gente vive na miséria”.
O estudante de física Dmitri, de 21 anos, que não quis dizer seu sobrenome, contou que essas foram as primeiras eleições em que ele decidiu não votar, porque viu “muita fraude na eleição parlamentar” de dezembro. “Isso demonstra que o seu voto não tem valor nenhum.” Dmitri diz que na eleição passada votou no Partido Liberal Democrático, de Zhirinovsky, “porque é o partido mais ridículo de todos”. Foi um voto de protesto, explicou.
À pergunta sobre se votaria noutros candidatos da chamada oposição democrática, que se recusaram a disputar a eleição por considerá-la injusta, a economista Nina Vodopianova, de 50 anos, respondeu: “Nós nem sequer conhecemos as propostas deles. O regime não deixa circular essas informações.”
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