O presidente Fernando Henrique Cardoso embarcou ontem para a Suécia, onde participa, hoje e amanhã, da reunião de cúpula sobre “governança progressista”
ESTOCOLMO – Com chefes de Estado e de governo social-democratas de 13 países, incluindo Alemanha, França, Inglaterra, Portugal, Chile e Canadá. Embora esse seja o motivo principal da viagem, Fernando Henrique vai aproveitar a oportunidade para tratar com o governo e o empresariado locais de três assuntos prioritários para o Brasil: aumentar os investimentos suecos no País, as exportações e o turismo.
Amanhã, o presidente toma café da manhã com o primeiro-ministro Göran Persson, almoça com “formadores de opinião” e, às 14 horas (10 horas em Brasília), se reúne com meia dúzia de empresários suecos. Entre eles, Jakob Wallenberg, presidente do maior conglomerado do país, controlador da Ericsson, da Electrolux e da Asea Brown Boveri.
Desde a introdução do real, o Brasil amarga déficit na balança comercial com a Suécia. No ano passado, exportou US$ 175,2 milhões e importou US$ 811,7 milhões. “O Brasil precisa ser muito mais incisivo para exportar para cá”, disse ao Estado o embaixador brasileiro em Estocolmo, Elim Dutra. “As potencialidades são imensas.”
O volume do comércio exterior sueco é de US$ 175,5 bilhões, com superávit de US$ 15,5 bilhões, segundo dados de 2000. Os suecos são apenas 8,7 milhões, mas têm uma renda per capita de US$ 27 mil e importam metade do que consomem. “É um mercado fascinante”, resume Dutra.
Em maio, uma missão de empresários brasileiros vem para a Suécia, Noruega, Dinamarca e Finlândia. Gilberto Heldt, funcionário do departamento comercial da embaixada, acaba de voltar de uma viagem ao Brasil, com um grupo de importadores escandinavos de calçados – três suecos, três noruegueses, dois dinamarqueses e dois finlandeses. Dos dez, pelo menos cinco fizeram encomendas na Couro Moda, a feira do setor em São Paulo.
De 1998 para cá, as exportações brasileiras de calçados e de carne deram um salto de 100%, chegando, em 2000, a US$ 4,3 milhões e US$ 5,6 milhões, respectivamente.
No caso da carne – cujas exportações eram de pouco mais de US$ 1 milhão há cinco anos -, o Brasil foi beneficiado não só pelo mal da vaca louca na Inglaterra e pela febre aftosa na Argentina, Uruguai e países europeus, mas também, pelo ingresso da Suécia na União Européia (UE), em 1995. Os suecos mantinham barreiras não-tarifárias para a carne, que foram derrubadas com a adesão às normas do bloco europeu. Já com relação aos produtos agrícolas, o ingresso do país na UE prejudicou o Brasil, por causa do protecionismo europeu.
Com exceção de café, carne e madeira, no entanto, a pauta de exportações do Brasil para a Suécia é composta substancialmente de produtos manufaturados, ao contrário do que ocorre na balança com outros países desenvolvidos. Café vem em primeiro lugar, com 22,1%, seguido por partes para aviões (12,6%), telefones celulares (11,4%), peças para motores (4,8%) e motores a diesel (4%).
Turismo – A Embraer já vendeu quatro jatos para a Skyways e dois para a City Airline, ambas companhias regionais de aviação.
Parte das exportações é feita pelas próprias empresas suecas instaladas no Brasil, como a Scania, a Volvo, a Ericsson e a Electrolux, fornecedores das matrizes na Suécia. As 180 empresas suecas instaladas no Brasil vendem cerca de US$ 6 bilhões por ano, têm investidos no País US$ 3 bilhões e planejam investir mais US$ 1 bilhão nos próximos cinco anos. São Paulo é a terceira cidade em indústrias suecas, depois de Estocolmo e Gotemburgo. “Os suecos são exportadores de empresas”, define o embaixador.
E de turistas. Não por iniciativa de operadoras brasileiras, mas suecas, eles começaram a desembarcar em Natal em 1999, em dois vôos charter semanais, partindo de Estocolmo. No primeiro ano, foram 24 mil, e em 2000, 38 mil. “São os turistas ideais, que preservam o meio-ambiente e têm alto poder aquisitivo”, descreve Dutra.
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