Em protesto, policiais egípcios pedem perdão

Temida e odiada, polícia que barbarizou opositores da Praça Tahrir sai às ruas para acusar Mubarak e pedir melhores salários

 

CAIRO

Cerca de 2 mil policiais se reuniram ontem na frente do prédio do Ministério do Interior, para responsabilizar o governo pela repressão aos protestos que levaram à derrubada do presidente Hosni Mubarak na semana passada; para pedir perdão à população pelos excessos cometidos, e para dizer que querem voltar ao trabalho, com melhores salários e benefícios. Alguns policiais já haviam comparecido ao prédio do ministério na véspera, mas ontem foi a primeira vez que eles apareceram nas ruas nessa quantidade, depois de terem sumido havia duas semanas.

“A polícia e o povo são um só”, foi a principal palavra de ordem gritada pelos manifestantes, parte deles com a farda preta da polícia – ao mesmo tempo temida e odiada por sua brutalidade e corrupção -, e outros à paisana. Dezenas de soldados do Exército, apoiados por dois tanques parados em frente ao Ministério do Interior, observaram a manifestação. Apenas intervieram quando um homem com uma bandeira tentou subir num dos tanques. Foi levado preso por um oficial do Exército.

Dezenas dos que estavam à paisana cercaram o repórter do Estado e sua intérprete, uma jornalista egípcia que pediu demissão de um canal de TV por não poder noticiar as manifestações contra o governo. Eles disseram que são agentes, fora da carreira, que atuam à paisana ou fardados, e admitiram que participaram dos ataques aos manifestantes na chamada Quarta-Feira Sangrenta, há duas semanas. Disseram que a ordem partiu do então ministro do Interior, Habib El-Adly, que está sendo investigado pela Procuradoria Geral da República por vários crimes, incluindo o massacre de 24 cristãos em Alexandria, na virada do ano. O repórter perguntou por que eles obedeceram à ordem de espancar manifestantes e jornalistas se não a consideravam correta. Eles responderam que ganham 500 libras egípcias (US$ 83) por mês e, se não obedecessem, receberiam apenas 100 libras (US$ 17). “Não teríamos o que comer.”

Durante o protesto os policiais exigiram também a demissão de Ismail Shaer, vice-ministro do Interior, que continua no cargo, e que segundo eles também ordenou as agressões contra os manifestantes. Os policiais reivindicam equiparação de seus salários aos do Exército. Segundo eles, enquanto um soldado da polícia ganha 500 libras, um do Exército recebe 1.200 libras (US$ 200). O Egito tem 350 mil policiais e 470 mil militares. Apenas um terço dos policiais – em geral de trânsito – voltou às ruas. O Exército está mantendo a ordem e até organizando o trânsito. “O regime também foi ruim para nós”, disseram alguns policiais. “Nós também pertencemos ao povo.”

“Eu não perdôo”, reagiu Ahmed Arabiya, um segurança de banco aposentado de 60 anos que observava o protesto. Ele contou que na véspera mesmo teve de dar 100 libras para um policial para resolver um problema num tribunal, numa ação de despejo da loja dele. “Os policiais fizeram muito mal para nós.”

 

 

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