Junta militar diz que vai garantir eleições

Confrontos deixaram 42 mortos em uma semana; manifestantes exigem renúncia da junta

CAIRO – Em meio a confrontos entre a polícia e manifestantes, que em uma semana deixaram 42 mortos e 2 mil feridos, o chefe da junta militar que governa o Egito, marechal Mohamed Hussein Tantawi, disse ontem que as Forças Armadas vão garantir a realização das eleições parlamentares, cuja primeira etapa ocorre hoje e amanhã. Os manifestantes, que ocupam a Praça Tahrir, no centro do Cairo, exigem a renúncia da junta e a instalação de um “governo de salvação” civil, sem a tutela militar.

“Estamos em uma encruzilhada”, disse Tantawi. “Há apenas dois caminhos, o sucesso das eleições, levando o Egito em direção à segurança, ou encarar perigosos obstáculos, que nós, das Forças Armadas, como parte do povo egípcio, não permitiremos.” A junta assumiu em fevereiro, depois que protestos como os que ocorrem agora derrubaram o ditador Hosni Mubarak, no poder havia 30 anos.

“A nação é maior do que o marechal Tantawi e o Conselho Supremo das Forças Armadas”, reagiu Abdel Moneim Abul Futuh, líder islâmico radical que aspira concorrer à eleição presidencial, que deve ocorrer até o fim de junho.”Um governo com liderança revolucionária deve ser formado para atender às reivindicações da Praça Tahrir.”

Longe da praça, no entanto, uma maioria silenciosa de egípcios demonstra o desejo de participar das eleições, que transcorrerão em várias etapas até março, independentemente de suas posições políticas.

A farmacêutica Hana Essawi, por exemplo, vai votar no Partido Liberdade e Justiça, da Irmandade Muçulmana: “Acho que eles têm um programa muito bom e independente. Não os escolhi por motivos religiosos, mas políticos mesmo. Acredito que eles vão me representar no Parlamento.” Hana diz que as manifestações estão de acordo com a lei: “As pessoas estão lutando pelos seus direitos. É normal se manifestar contra o regime.” Mas ela acredita que as eleições serão justas.

O contador Mohamed Abdel-Rab Ennaby, de 28 anos, discorda que elas serão justas. Mesmo assim ele diz que vai votar, embora não soubesse ainda em quem. “Não apoio partidos religiosos”, afirma. “Para mim o mais importante é encontrar alguém que salve o país.” Ele concorda que as manifestações estão de acordo com a lei, mas ressalva: “Não gosto quando elas se tornam batalhas entre civis e a polícia. Acho que há uma terceira força buscando esses conflitos.”

Amr Hassan, de 36 anos, dono de uma mercearia, também vai votar no Partido Liberdade e Justiça. “Eles sofreram muito sob o regime anterior de Mubarak”, explica Hassan. “São médicos, professores universitários, engenheiros. Acredito no programa deles.” O comerciante confia que a eleição será justa. “Mas tenho medo que os conflitos levem ao cancelamento da eleição. Não estou de acordo com as manifestações. Elas criam divisões entre o povo.”

O vendedor de frutas Ibrahim Ahmed, de 40 anos, vai votar no Partido da Liberdade do Egito, de orientação secular. “Espero que eles possam salvar o país”, diz Ahmed, que não está de acordo com as manifestações: “Acho que os militares podem garantir a transição para a democracia.”
Nama Hessin, funcionária da Justiça, de 50 anos, também vai votar no Partido da Liberdade do Egito. Ela acredita que as eleições serão justas e não concorda com as manifestações: “Acho que elas prejudicam o país. Isso acabou.”

Publicado no Estadão. Copyright: Grupo Estado. Todos os direitos reservados.

Deixe o seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*