Militares garantem que referendo para aprovação de reforma constitucional poderá ser feito dois meses depois da apresentação do texto
CAIRO
A cúpula militar e o governo civil do Egito deram sinais de que vão adotar medidas rapidamente em várias frentes para assegurar a transição para a democracia. O Conselho Supremo das Forças Armadas previu que a reforma da Constituição poderá ser submetida a referendo dois meses depois da elaboração da proposta. Líderes oposicionistas poderão em breve ser convidados a integrar o gabinete. E a Grã-Bretanha recebeu pedido para congelar os bens de Hosni Mubarak, que renunciou na sexta-feira depois de governar durante 30 anos, ao fim de 18 dias de protestos que mobilizaram milhões de pessoas em todo o país.
O diretor de Marketing do Google para o Oriente Médio, Wael Ghonim, e o ativista Abdel-Rahman Samir participaram de uma reunião na noite de domingo com dois generais do Conselho Supremo. Os militares lhes asseguraram que, uma vez concluídas as propostas de reformas constitucionais, elaboradas por um grupo de juristas, será marcado o referendo, com prazo de dois meses, para a população aprovar ou não as mudanças. Elas abrirão caminho para a realização de eleições livres, dentro de seis meses. Uma fonte do Exército citada pela agência Reuters confirmou o prazo de dois meses para o referendo e disse que as prioridades agora são restaurar a ordem e reativar a economia.
Os generais encorajaram os jovens a criar novos partidos políticos. Em reuniões na Praça Tahrir, epicentro dos protestos, essa ideia já havia ganhado força. Poucos partidos tradicionais devem sobreviver à chamada “Revolução” que derrubou o regime Mubarak. Segundo analistas ouvidos pelo Estado, apenas têm chances aqueles que fizeram oposição mais frontal ao governo e boicotaram as eleições parlamentares de dezembro, como o Al-Wafd, Al-Ghad e Al-Gabha, todos considerados “liberais”.
A Irmandade Muçulmana, banida como partido formal, também deve emergir como uma das principais forças eleitorais. O Partido Nacional Democrático, de Mubarak, teve seu enterro simbólico no incêndio – provocado pelos manifestantes – que destruiu sua enorme sede, na beira do Rio Nilo, no dia 28. Outros partidos que serviam de satélite do regime, em geral de esquerda, também devem desaparecer, como o Tagamoa e Al-Nasery, inspirado nas ideias do ex-presidente Gamal Abdel Nasser (1956-1970).
O primeiro-ministro Ahmed Shafiq deve chamar líderes oposicionistas para participar do gabinete. A informação foi dada ontem pelo ministro das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, William Hague, depois de conversar com Shafiq. Hague disse também que o Egito pediu à Grã-Bretanha o bloqueio dos bens de “vários ex-dirigentes”, sem citar nomes. Parte da fortuna de Mubarak, avaliada em US$ 70 bilhões, está em Londres. O presidente não aparece em público desde seu último pronunciamento à nação, na quinta-feira, mas acredita-se que esteja no palácio presidencial de Sharm el-Sheikh, balneário no Mar Vermelho.