Candidato opositor diz que ‘o governo já caiu’ e agora cabe aos militares conduzir o país a uma transição democrática
CAIRO – O presidente Hosni Mubarak abriu mão de todos os seus poderes, mas o Exército ainda precisa deixar isso claro para o povo egípcio. Essa é a interpretação do ex-deputado e possível candidato a presidente Hamdeen Sabahy. “Acho que ele deixou o poder, mas não deu satisfação ao povo egípcio”, disse ao Estado Sabahy, que foi deputado independente por duas vezes, em 2000 e em 2005. “O Exército precisa fazer um novo pronunciamento assegurando as conquistas dos manifestantes.”
Em dezembro do ano passado, Sabahy decidiu boicotar a eleição na tarde da votação, quando, segundo ele, ficou claro que ela seria fraudada. Desde o ano passado, o nome desse jornalista de 56 anos tem crescido como o candidato a presidente dos jovens – os mesmos que lideram a chamada “Revolução” das duas últimas semanas no Egito.
O que o sr. achou do discurso de Mubarak?
Acho que ele deixou o poder, mas não deu satisfação ao povo egípcio. Neste momento todos os egípcios estão deprimidos, porque ele não disse claramente, mas ele se retirou. Agora, o Exército precisa fazer um novo pronunciamento assegurando as conquistas dos manifestantes, e que Mubarak não tem mais nenhuma autoridade, só é presidente formalmente. O Exército precisa formar uma comissão militar e civil, para conduzir a transição.
Mas essa não pareceu ser a posição do vice-presidente Omar Suleiman, que discursou em seguida.
Não consigo ver o que Suleiman está pensando. Mas agora o povo precisa de uma posição do Exército, não de Suleiman. O Estado egípcio agora só tem um poder: o Exército.
Pode-se confiar nos militares, de que apenas farão a transição, e não ficarão por outros 30 anos no poder?
Com certeza, sob uma condição: que haja uma composição entre militares e civis. Os militares não podem governar sozinhos.
Quem seriam esses civis?
Não importa. Eles só têm de ser egípcios honestos, respeitáveis.
Há condições para a realização de eleição presidencial em setembro, conforme previsto?
Sim, dentro de três meses podem ser realizadas eleições para um novo Parlamento, e dentro de seis meses, para presidente.
Esse novo Parlamento terá poderes constitucionais?
O novo Parlamento poderá escrever uma nova Constituição. Por agora, é necessário emendar apenas de 3 a 10 artigos da Constituição, no máximo, para realizar eleições livres e justas.
E o sr. acredita que Suleiman e os militares podem realizar eleições justas?
Sim. O povo estará observando.
Que papel os militares devem assumir a partir de agora na política egípcia?
Um papel semelhante ao que eles têm na Turquia: salvaguardar o cumprimento da Constituição e manter a ordem, além de proteger as fronteiras. Imaginamos um sistema semelhante ao turco, com um presidente como chefe de Estado, que não governa, e um primeiro-ministro encarregado de governar. O povo poderá eleger um presidente militar, se quiser, desde que ele fique no máximo por dois mandatos consecutivos de cinco anos. O primeiro-ministro deve necessariamente ser civil.
Por que o sr. não participou da reunião com Suleiman no domingo?
Ele me convidou duas vezes, mas preferi não aparecer na TV à mesa com políticos corruptos.
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